Foto: Coletivo Camaradas
Por Nivaldo Magalhães Martins*
Escrevi, em textos anteriores, que a história a gente aprende na rua. Muito mais que nas escolas. Pelo menos nesse modelo que hoje suportamos de goela abaixo. Viver da cultura no Brasil é difícil, quase impossível, e cada vez mais precisamos dela enquanto instrumento de realização coletiva. Alguns lutam, outros vão sobrevivendo como podem. A cultura está sempre por um fio, a verdade é essa. Uma luta desigual contra o que vem de fora. Meu medo é que ela se acabe nas mãos de meros tecnocratas. Hoje, as escolas não são pontos de cultura, são fábricas de “medalhas”, de “vencedores” robotizados.
A cultura escapa por entre essas garras dos aparelhos ideológicos do Estado, que nos aprisionam pelo inconsciente e nos individualizam. A cultura liberta dessa violência crescente nas escolas. Não seria demais dizer que essa violência é a falta de uma educação integral calcada numa dinâmica de construção social compartilhada. Isso é falta de cultura. De integração com a comunidade, de inclusão e da importância de cada pessoa na conquista de um pleno direito à cidade. Temos leis para isso, o que falta é vontade política. Por isso essa luta é justa. Por isso clamamos por um país com mais livros, cordéis, artesanatos, danças e cantigas de roda, dentro de uma perspectiva de transversalidade que só a cultura é capaz de fazer para o desenvolvimento da sociedade.
Embora, às vezes, alguns não vejam utilidade material, a cultura é um patrimônio imaterial. E é assim que deve ser encarada pelos políticos. Se for mercadoria, apenas quem tem dinheiro terá acesso a ela, alijando as pessoas menos favorecidas. Sem o investimento público, o particular não fará algo que não lhe dê retorno. Essa não seria a lógica, pois a cidade, pelo contrário, deve ser pensada e erguida de forma democrática e com participação popular. Engana-se quem acha que a cultura é gasto. Ela ainda movimenta todo comércio e economia local, levando dignidade para as pessoas. Gasto mesmo é a ignorância dos “gestores”.
Não deixemos que a história seja contada pelos outros, façamos nossa própria história através da cultura. Sou a favor dos 2% do orçamento para cultura do Crato. Viva a cultura popular!
*Promotor de Justiça e escritor.