
Investir em quem faz cultura aqui ou só importar atrações? A escolha está feita.
Na contramão de qualquer discurso de valorização da cultura local, a Prefeitura do Crato acaba de anunciar o investimento de R$650 mil em apenas três atrações de fora para a festa dos 261 anos do município. Enquanto isso, o total destinado a artistas da cidade para a programação do “Crato Junino 2025” é de apenas R$65.500 — ou seja, apenas 10% do valor pago às atrações externas, para um número muitíssimo maior de atrações.
Sim, você leu certo. Dez por cento.
Essa escolha não é acidental. Ela é política. E revela, com todas as letras, o modelo de gestão cultural adotado: o da cultura como mercadoria, como vitrine, como espetáculo de fachada — onde o protagonismo dos fazedores e fazedoras de cultura do próprio município é sistematicamente ignorado, subvalorizado e precarizado.
Mas o quadro consegue piorar. No início deste ano, o prefeito — ladeado da atual secretária de Cultura —, convocou uma reunião com os pontos de cultura para anunciar o pagamento do edital de fomento de 2024 (atrasado desde a gestão anterior) e, junto com isso, sem qualquer diálogo com a Comissão Municipal Cultura Viva, um aumento de 20% no valor para a edição de 2025, passando de R$ 5.000,00 para R$ 6.000,00 por ponto. Anunciou também que o edital de 2025 seria lançado em abril, com pagamento da primeira parcela em junho e a segunda no segundo semestre — datas que, até agora, não passaram de promessas vazias. Nenhum edital, nenhum pagamento, nenhum centavo.
O mesmo governo que não honra os compromissos assumidos publicamente com quem sustenta a cultura da cidade, é o que agora destina R$ 650 mil a artistas de fora.
Não se trata de falta de informação. A gestão foi provocada, alertada, chamada ao diálogo, recebeu ofícios, propostas, participou de mesas e debates no Fórum Municipal Cultura Viva. Também acompanhou, ainda que sem oferecer o devido suporte, a luta de uma comitiva de artistas e agentes culturais que foi até Fortaleza defender a cultura viva do Crato no Fórum Estadual. Ou seja, sabe muito bem o que está fazendo — e, pior, escolheu fazer assim.
Enquanto artistas, mestres e mestras da cultura, coletivos e pontos de cultura do Crato seguem sustentando, diariamente, a cultura que pulsa nas comunidades, nos bairros, nos territórios, a gestão prefere destinar a maior fatia dos recursos públicos a poucos artistas de fora — ignorando o papel social, simbólico e econômico da cultura local.
É sobre isso que estamos falando: escolhas. E escolhas dizem muito sobre que projeto de cidade está em curso.
Em outro exemplo dramático do descaso com que a cultura local vem sendo tratada pela atual gestão, a Comissão Municipal Cultura Viva solicitou, ainda no mês de março, durante reunião com a Secretária de Cultura, informações sobre o orçamento destinado à cultura em 2025. Como tem sido regra nesta gestão, o silêncio foi a única resposta. Nenhum valor nos foi informado, nenhum espaço de diálogo foi aberto, nenhuma discussão sobre investimentos em políticas culturais aconteceu — o que contraria os princípios e compromissos assumidos no Plano Municipal de Cultura, instituído pela Lei Nº 4.204/2024.
Por isso, a Comissão Municipal Cultura Viva do Crato vem a público denunciar esse modelo excludente, desrespeitoso e injusto. E, mais uma vez, reafirma que segue firme, mobilizada, propositiva e em luta — porque a cultura do Crato não pode mais aceitar ser tratada como figurante no próprio território.
—Comissão Municipal Cultura Viva Crato