Celeste do Gesso

Alexandre Lucas

Na beira da calçada estava Celeste. Manhã, carros e pessoas passando. Saia rodada da cor de poeira, blusa azul de alça. Sobe a saia, acocora e mija. Levanta, acende o seu cigarro brabo e coloca uma sacola com mantimentos na cabeça e segue.

A mão estendida de Celeste vai abordando quem cruza o seu caminho. Boca sem dentes, mastigando fumaça, dispara:
— Me dê dois real.

Celeste se aproxima como quem vai beijar, de tão próxima que fica. Visita a Padaria Nobre dez vezes ao dia. Aborda tudo que é de gente, quase beijando. Apenas as crianças ficam de fora.
— Me dê dois real.

Sai Celeste todos os dias, revirando o centro da cidade com a sua mão estendida. Caras franzidas, xingamentos e olhares de abraços. Às vezes, umas moedas; com sorte, dois reais.

Final da tarde, Celeste volta para casa, nunca perde o caminho. Passa mastigando fumaça, atravessa a linha do trem, chega na casa de Socorro, sua irmã, sua casa. Deita na rede e espera o dia seguinte.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.