O Interesse Humano: um convite ao diálogo

Luciana Bessa

Há alguns meses, todas às quartas-feiras, às 19:30h, no Clube do Livro da Nova Acrópole -JN, eu e um grupo de pessoas que acreditam na Filosofia como uma ferramenta de educação que alia teoria e prática aplicada à vida, temos nos dedicado à leitura e ao diálogo do livro O Interesse Humano, do pensador e escritor indiano Nilakanta Sri Ram, que concebia a Natureza da Teosofia (“sabedoria divina”) como uma  sabedoria transformadora, assim como, pregava que há uma unidade por trás da diversidade.

A obra é composta por trinta e cinco textos que versam sobre os mais diferentes assuntos: verdade, felicidade, desejo, karma, dharma, inocência, beleza, ilusão, juventude, valores, dentre tantos outros. Ou seja, os leitores são apresentados a um leque de possibilidades temáticas que perpassam a sua existência, mas que, muitas vezes, engolidos pela resolução de demandas, absorvidos pelo piloto automático, esquecem e/ou não conseguem aprofundar determinadas questões que lhe são inerentes.

Um exemplo prático é a felicidade. Todos querem ser felizes, mas qual é a concepção que têm sobre felicidade? Possivelmente muitos associam-na a conquistas materiais. Muitas vezes a felicidade é descrita como uma projeção futura: quando eu me formar, quando eu me casar, quando eu comprar meu carro e minha casa, serei feliz. Será? Poucos entendem a felicidade como a busca pelo bem viver, pela prática das virtudes e pelo interesse para além de si próprio, como traz a obra em destaque.

Em uma sociedade caracterizada pelo desempenho, positividade tóxica, exposição por meio das mídias sociais, relações líquidas e individualismo exacerbado, vemos constantemente sujeitos infelizes, angustiados e com doenças psíquicas, como a depressão e o burnout.

Com efeito, em uma época em que as palavras de ordem são: “beleza”, “motivação”, “projeto”, “eficiência”, “inteligência artificial”, “hiperatividade”, “sim”, entre outras, dizer “não”, por exemplo, tornou-se uma necessidade básica, assim como dormir e comer. Se você pesquisar bem é possível encontrar tutoriais ensinando a dizer “não”.  O interesse pelo outro não significa dizer “sim” para satisfazer-lhe as necessidades, tampouco, as vontades.

A grande questão é: como se interessar pelo humano em meio a uma sociedade competitiva em somos ensinados, desde a infância, a sermos o melhor, o mais bonito, a possuir o melhor carro e o jardim mais bonito?

Que tal começar a nos separar das massas? Não nos deixar capturar por determinadas instituições e/ou opiniões alheias, desenvolver um trabalho voluntário, buscar novos grupos, deixar de girar ao redor do nosso próprio umbigo e lamber somente as nossas dores? Que tal entrar em contato com novas leituras e novas ideias, como é o caso da Filosofia (“amor pela sabedoria”)? O pensar filosófico ampliará nossa visão de mundo, nossa rede de conexões, nos dará consciência para diferenciar nosso “eu verdadeiro” do “falso eu”, abrirá portas para outros mundos, levando-nos ao autoconhecimento.

Através dele, não nos permitiremos ser escravos dos desejos, ser envolvidos pelo “mito da beleza”, ficar preso ao julgamento do outro, ou mesmo acorrentado ao passado.  A “síndrome do espelho retrovisor” impede o nosso crescimento pessoal e social. É preciso estar e viver o tempo presente.

Partindo do princípio de que o homem é um ser social e político, Sri Ram nos convida a interessar-nos pelo humano, apesar das nossas sombras, do apego ao passado, dos desejos que nos rodeiam e das crenças limitantes.

O interesse humano não pode ser manufaturado tampouco pode ser encontrado nas prateleiras dos supermercados. Não obstante a todas as máquinas inventadas e a todas as descobertas científicas, o homem só é completo quando evoca um interesse pelo seu semelhante.

Sobre a autora:

*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)