
Alexandre Lucas
Pinto vende cerveja e tira-gosto de carne de mulher. Nunca o vi vendendo outra coisa. Tudo está à venda: o silêncio, o ar, a bagunça, o corpo, o amor.
Na esquina da rua mais distante, também se vende mentira, Coca-Cola e um pedaço de felicidade. Às vezes, é possível comprar até um lote no céu.
Entre mesas velhas de madeira e um jukebox desmantelado — aquele aparelho em que se escolhe música com fichas —, lá está Pinto, com um sorriso pela metade. As mulheres se espalham pelas mesas, bebem, conversam, ouvem histórias de solidão, piadas improvisadas, porradas de palavras e nada com nada. Marcam o prazer no relógio e anotam com rostos cansados refletidos no espelho quebrado, mais um dia.
Neguinha, a carne mais nova de Pinto, já tem 40 anos. Chegou há dois dias. É novidade na casa. É carne fresca.
Pinto fechou hoje. Viajou para trazer carne nova, trocar mercadoria. Estamos falando de gente. Dia de descanso. Amanhã tem açougue de prazer. Tem mercado. Neguinha já procura outra venda.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.