
Alexandre Lucas
“Tempo para sonhar” anunciava a placa na parede do cemitério. Sorrisos fabricados para vender esboçavam-se nos anúncios comerciais. Nas calçadas, as mãos estendidas assaltavam as mentiras vestidas de felicidade.
O bêbado, descalço, de camisa encardida e calça camuflada de rigidez e terra, dançava, sorria e fazia caretas. Caía, levantava, seguia.
Enquanto os outros compravam a embriaguez, o bêbado mendigava para beber. As ruas, emplacadas de rostos felizes, esbanjavam consumo.
O bêbado consumia o cansaço da vida, o último buquê da esperança.
O bêbado derrubava a rua, embaralhava as conversas e apontava a lucidez da realidade.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.