Mundinho da segunda-feira

Alexandre Lucas

Não existe nenhuma combinação. Toda segunda-feira, no início da tarde, Seu Mundinho chega. Passos lentos, carrega uma sacola com a feira da semana. Pede uma cerveja, senta na mesa reservada. Vai ao banheiro, abre a carteira e vê quanto ainda resta.

Mundinho me acena, chama-me para a mesa. Pergunta o que quero beber; tomo da mesma cerveja. Percebo que a maior sede dele é beber olhando nos meus olhos, como quem quisesse devorar meus sorrisos e sentir meus dedos massageando os calos de suas mãos. Parece que só isso basta.

Só sei que, há anos, Mundinho nunca falta às segundas-feiras. Imagino que uma segunda-feira sem ele teria cara de feriado.

Mundinho sempre deixa um agrado. Já deixou bombons, brincos e sementes de jacarandá. Parece um menino apaixonado, bobo, de olhos brilhantes. Encontrar carinho deixa a gente abobado.

Mundinho também paga o quarto, só para sentir minha cabeça em seu peito — que já não aguenta muita coisa.

Só conheço Mundinho das segundas-feiras. Ele conta histórias; algumas só eu sei. Às vezes me sinto a terapeuta da mesa do bar, mas longe disso, não entendo de nada. Entendo é de virar a noite entre falas e falos, entre insônias e prejuízos, alguns suspiros e alívios.

Mundinho só me visita às segundas-feiras. Aqui, as segundas são dias de fazer feira. Ele faz, depois vem pra cá, com sua sacolinha e seus olhos de céu e mar.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.