A foto do buquê de rosas

Alexandre Lucas

Olhos de paixão e cansaço. Boca flácida, como se esperasse um beijo ou o espanto. Cabelos de fogo e um buquê enorme, rosas vermelhas tapando os seios e a garganta. O trem ao fundo parecia partir. Era a paixão esfumaçada, numa foto posta no varal da economia.

O coração é uma flor triturada pelas máquinas de moer gente. As mesmas que trituram o vento e o tempo de aprender a amar.

A foto já se perdeu entre a velocidade e a memória. As rosas vermelhas se plastificaram. As roupas escondem a verdade das formas e a sinceridade das primaveras.

Já cancelei o prazer e o pôr do sol; as máquinas não me deixam sair, fabricam sorrisos estáticos despachados pelas telas dos celulares. Estão por todos os cantos: nas vitrines de maquiagem, nos supermercados e nas casas de carne, onde o boi e o peru aparecem sorrindo.

Hoje não vou poder sair. Fico em casa. Não sei por onde começar: a pia, o chão e as roupas pedem presença, a minha.  Se sobrar um tempo, almoço, mas tenho que fazer. Vou enviar algumas fotos só para confundir e iludir minha felicidade.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.