
Alexandre Lucas
Desfilava de biquíni, tinha uma tatuagem na coxa e balançava um sorriso. Deviam ser três horas da manhã; acabara de lembrar do sonho. Uma sensação de alegria ao ver aquele corpo ousando desafiar os seus limites. Gorda demais, magra demais, e meio-termo era sempre insatisfação para aquela mulher. No sonho, porém, ela parecia exibir volumes de contentamento.
Os sonhos que se têm dormindo não são escolhidos. Aquele, em particular, poderia ser excluído da lista dos desejados.
Aquela mulher — desfilando de biquíni, tatuagem na coxa, balançando um sorriso — seguia como uma estranha. Não estava para além do mar nem das estrelas; só a encontrava nos sonhos e, inesperadamente, nas lembranças.
Os sonhos que se sonham dormindo bem que poderiam ser escritos. Escreveria todas as noites. Em alguns textos deixaria somente assim: “Só dormir, sem sonhos”. Em outros colocaria: “Sonhar brincando com sorrisos”. A cada dia iria escolhendo os sonhos com mais cuidado do que se tem ao atravessar uma avenida às 17h — horário de carros e impaciência. Encheria as noites de brilho e maciez de bosques e estrelas, de flores e abraços.
Mas amanhã é capaz de sonhar com a mesma mulher desfilando de biquíni, tatuagem na coxa, balançando um sorriso. Ainda bem que acordo.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.