Por Alexandre Lucas*
Sentado no tumulto da rua, carregava um saco de paciência. Recolhia olhares e descobria a pressa. A corrida para não chegar a lugar nenhum. Esqueceu seu nome, entre os desconhecidos. Era sempre o senhor, o velho, o homem, o bêbado, o doido. Inúmeras identidades de um anônimo.
Saco sempre cheio. Catava outros sacos menores, mesmo sem ter nada para ensacar. Sua pele encardida se assemelhava com as sacolas enrugadas. Uma greve permanente de cheiro, água em abundância desbotava sua cor, por acaso e no inverno.
Idade, quem sabe? O corpo jogado ao sol se desfaz com ligeireza e confundi o tempo.
Uma dose de cachaça para carregar a vida. Com afinco o homem arrasta pela cidade o saco, transporta nas costas sua casa, esperando o dia passar.
*Pedagogo e artista/educador