
Manhã, café para fazer. O Chupa-Manga visitava a varanda; pequenino, se escondia entre as folhas. A poeta das plantas colhia acerolas. Chegou orgulhosa da sua colheita: maduras, doces e vermelhas brilhantes. Foi logo fotografar, experimentou composições e provou cada fruto delicadamente.
Café da manhã pronto. Há dias atípicos, em que o relógio é esquecido, porque o único compromisso está posto à mesa e no desejo de celebrar a delicadeza. Melancia, morango, suco de acerola, uvas, café, cuscuz, ovos e queijo. Do lado esquerdo estava a poeta das plantas, comendo e dividindo conversas. Lembrava que uma hora demorou quase um dia; promessa difícil é passar pouco tempo. A gente não faz contabilidade das horas, quando vai ver: já é outro dia.
Antes do meio-dia, a poeta das flores oferta uma pequenina flor de acerola do tamanho do mundo. O mundo tem o tamanho das nossas vontades. A flor, segurada na ponta dos dedos, trazia a poesia da aurora e a pronúncia do “eu te amo”, cantada pelos lábios da poeta.
A poeta se despediu deixando a flor de acerola florindo a casa da varanda e dois jarrinhos nos olhos, andando pelo mundo.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.
