Ludimilla Barreira*
Encerramos o mês que foi referenciado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para instituir uma data em homenagem às mulheres, o 8 de março, que é comemorado desde o início do século XX, dia este marcado por protestos contra a fome, como na Rússia em 1917, e em momentos anteriores reivindicando a igualdade de gênero e melhores condições de trabalho. Apesar de não ser um dia instituído pelo comércio e não rememorar lembranças ternas, é um dia mantido no calendário nacional como homenagem às mulheres que mesmo diante de tantas adversidades tentam fincar suas pequenas conquistas.
Durante todo o mês, percebemos tímidas formas de comemorar o “Dia da Mulher”, seja com palestras tratando de temas centrados na melhoria da vida pessoal/profissional, ou com notícias que favoreçam a vivência do ser mulher, como também, institucionalmente com esforços governamentais na luta contra a violência de gênero ou até mesmo a publicação de pesquisas que apontem o avanço da legislação que nos protege, na tentativa de encorajar mais mulheres a buscar proteção e a efetividade de seus direitos.
Mas, na verdade, esta é uma data incômoda, não para todos, afinal, “a ignorância é uma dádiva”, traz desconforto para quem percebe o quanto estamos longe de alcançar o que é pauta reivindicatória desde o aparecimento dos questionamentos do papel da mulher na sociedade, que, atualmente, permanece em grande parte sendo apenas uma luta distante que não muda efetivamente a vida da maioria das mulheres que aceitam caladas um destino imposto e permeado de violência e segregação.
Diante do cenário e, em uma sociedade racista, sexista, machista e misógina, em que 68% das brasileiras têm uma amiga, familiar ou conhecida que já sofreu violência doméstica, conforme pesquisa utilizada pelo Mapa da Violência de Gênero no Brasil*, independente da ótica é um percentual revoltante, no entanto, cabe salientar que muitas vezes a depender do contexto sociofamiliar, a mulher entrevistada sequer entende o que seria de fato uma das formas de violência perpetrada contra ela nas relações íntimas e de afeto e, além destas, há ainda o grande campo dos entrelaçamentos sociais que não estão abrangidos pela lei, onde mulheres permanecem expostas como vítimas, mas acreditam que se relacionam dentro de uma suposta normalidade.
Percebemos essa urgência do Estado em identificar e punir o agressor, quando, na verdade, todos nós somos algozes, pois enquanto não forjarmos uma convivência de respeito ao indivíduo, que virá apenas através de uma educação crítica e menos automatizada, introduzida desde a infância, com questões relacionadas à igualdade, com a desmistificação dos papéis de gênero e mais questionadora das diferenças, baseada na libertação dos moldes e das amarras criadas para perpetuar a exploração de uma maioria que é minoritariamente representada, não teremos evoluído socialmente.
Diante disso, externo meu apelo aos que são solidários e entendem a necessidade de buscarmos essa igualdade entre gênero, raça e classe. Sem isso, não haverá uma liberdade palpável, se a maioria das mulheres estiver de fora e permanecer como massa de manobra, sendo utilizada como escudo, enquanto poucos se beneficiam das novas concepções e corroboram com a perpetuação das relações coloniais de poder.
Sobre a autora:
Ludimilla Barreira
*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.