A saudade é uma porta aberta

Dezoito chaves. Manhã, segunda-feira. O ipê do jardim acena com suas flores amarelas para um dia nublado. Faz calor. Garoa. As dezoito chaves abrem cadeados e portas, nenhuma abre caminhos. O sol começa a dar as caras, mas logo as esconde.

Tomo suco de caju enquanto brinco com as dezoito chaves. Conto até dez para tentar escutar a respiração: ela está fazendo caminhada e ouvindo música clássica. Os dias estão com gosto de primavera, e as borboletas têm aparecido na varanda.

Tenho plantado algumas estrelas e carregado no bolso as chaves. Outro dia, ganhei uma música fazendo cafuné e um par de olhos brilhando como purpurina.

Guardei na geladeira um bolo de pote para comer quando puder. Escrevi um poema parcelado em dez vezes para que as surpresas possam ser diárias. A saudade está de porta aberta e não tem chave para fechar.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.