Ivan Melo
Passada a euforia, acalmados os ânimos, posso agora revelar o verdadeiro motivo da desclassificação do Brasil na Copa do Catar.
Existem motivos óbvios, não nego: despreparo emocional de uns jogadores jovens e deslumbrados, comedores de ouro; falhas táticas de um mal treinador; uma campanha pela idiotização do público, promovida pela Fifa e a grande imprensa, que insistiam em transformar em herói da Pátria um atleta fraco de caráter e de liderança. Acrescento a isso um zagueiro que, em vez de bloquear, esquiva-se da bola que acaba em gol contra sua equipe.
Porém, antes de crucificá-los, ouça bem o que digo: o verdadeiro culpado pela derrota do Brasil fui eu. Isso mesmo. Foi por minha culpa que a seleção brasileira fracassou. Explico-me:
Nunca joguei futebol nem conheço uma só regra dessa paixão nacional, mas desde sempre, tenho duas absolutas certezas quanto a esse esporte em copas do mundo.
A primeira, que ficou no passado, é que independente da qualidade de seus jogadores, a seleção brasileira só venceria um jogo se eu assistisse à partida de minha casa. Meu irmão mais novo e minha mãe dividiam comigo esse encargo. O mundo não sabia, mas ficávamos em casa, os três
– eu, ele e minha mãe – juntos, diante da tevê, para garantir a vitória da canarinha e a alegria das multidões espalhadas por esse país.
Os dois já não estão neste plano, por isso não carregam mais a responsabilidade nem alguma culpa.
A segunda certeza é exclusivamente de minha alçada. Em cobranças de pênaltis, eu não posso permanecer diante da tela. Está escrito. Fazer o contrário, insistir em conferir as cobranças, é condenar meu time à derrota.
Não pense que é mera superstição. Isso, garanto que não tenho. No mesmo dia da desclassificação brasileira, garanti a permanência da Argentina na disputa. Saí de perto da tela momentos antes de iniciarem as cobranças de pênaltis. A Argentina vencia tranquilamente quando voltei à sala. Acreditei que a situação estava resolvida e decidi assistir ao restante da disputa. A coisa mudou rapidamente e tudo dependia de um chute decisivo de um dos jogadores do time sulamericano. Corri às pressas da sala para de longe ouvir os gritos anunciando a vitória da equipe albiceleste. Eles nem fazem ideia de que devem a mim aquela vitória.
Em resumo, admito minha culpa pelo tropeço da seleção. Penso seriamente em enviar, antes da próxima copa, mensagens para o próximo técnico e lhe dar garantia de que irei colaborar em casos de decisão por penalidades.
Certo que também farei as necessárias advertências: que escolha bem seus heróis e protegidos, que afaste atletas de caráter duvidoso, simpático a políticos genocidas e negacionistas. Que convença seus jogadores de que ostentação não cai bem com a torcida. Que oriente um nutricionista para ensinar-lhes que tudo o que comem, mesmo a carne mais cara e até mesmo o ouro, no final, tudo vira fezes. E isso fede, tanto quanto a má reputação que eles criam.