Por Alexandre Lucas*
O país vivencia uma onda preocupante de violência nas escolas que se integra a uma série de fatores conjunturais. A violência escolar compõe a mesma moeda que referenciou o fascismo e o bolsonarismo aos espaços de poder, logo, não é um fator isolado e de pequena proporção, pelo contrário se alimenta de estruturas ideológicas e econômicas concretas.
Na ascensão das forças conservadoras e reacionárias de caráter fascista, que vem tendo crescimento significativo dentro processo eleitoral brasileiro, podemos constatar alguns elementos: Promoção do ódio (ao invés de discurso de ódio), uso indiscriminado de plataformas digitais para espalhar narrativas mentirosas e anticientífica contra a democracia, violência e a naturalização da opressão e da exploração.
Os holofotes da mentira chegam com força e purificados de verdades, basta lembrar da convicção dos que praticaram os atos terroristas no dia 08 de janeiro de 2023, ou ainda das inúmeras imagens de evangélicos fazendo sinal de “arminha”.
Nesta onda, a violência é processual. A exposição dos nossos jovens aos grupos extremistas de direita (institucionalizados ou não) é crescente. A internet é um aglomerado econômico que quer abanar o crime sem ser responsabilizada, as plataformas digitais são grandes veículos de promoção e estruturação da cadeia do ódio e da violência.
Nos últimos anos a venda de armas de fogo aumentou no país. De 2019 a 2022, calcula-se que 1.354.751 novos armamentos entraram em circulação no Brasil, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Sou da Paz e Instituto Igarapé. Esses dados demonstram que o discurso e a prática se alinharam no governo Bolsonaro.
Neste banquete de disseminação de informações espetaculosas e sem critérios de verdade se aprofundou uma concepção equivocada e conturbada de “notícia” marcada pela distorção do fato, tragédia, violação de direitos, parcialidade, criação de mentiras e de mitos em plena contemporaneidade. A pós-verdade ganha força neste cenário e a narrativa fantasiosa se torna verdade. O encaixotamento da ciência é colocado em questão.
Crime virou sinônimo de liberdade de expressão para os donos das plataformas digitais, grupos variados da direita, incluindo fascistas, nazistas e grupos religiosos que detêm boa parte dos meios de comunicação do país e os anônimos que se espalham como cupins através dos seus grupos de “notícias”, em que a tragédia é anunciada como espetáculo e que imagens de pedaços de corpos são oferecidas como notícias.
A escola pública, em especial, está diante de uma sociedade da barbárie, desenhada para a doença da degradação social. Uma metralhadora invisível violenta e atira todos os dias contra crianças, adolescentes e jovens do nosso país. A metralhadora que mata esperança, história, ciência, coletividade e o desejo de mudança precisa ser discutida na escola cotidianamente, como medida processual de construção de uma nova mentalidade de sociedade, mas escola não faz revolução, enquanto o poder econômico continuar antagonicamente dividido.
Diante dessas eclosões de violência escolar, olhares umbilicais deverão apontar questões simplistas de cunho familiar ou psicologizante. O discurso socioemocional poderá tomar conta dos órgãos de educação, aliás vem tomando a cena há algum tempo, dentro da ótica do mercado e tirando o foco da função social da escola que é democratizar de forma contextualizada e integrativa o conhecimento produzido historicamente pela humanidade.
A escola ainda é um espaço conservador e violento, quando reproduz a ideologia daqueles que exploram e oprimem.
É preciso agir, encontrar soluções imediatas para inibir esse vendaval de terror nas escolas, os governos já tomam medidas preventivas e investigativas. O Governo Federal visa tomar medidas contra a fábrica de crimes cibernéticos que é capaz de promover massacres em escolas e eleger fascistas.
Todas essas medidas são indispensáveis, mas devem ser também acompanhadas de um profundo debate com a comunidade escolar sobre essa violência processual e ideológica que vem ocorrendo no seio da sociedade.
É urgente defender medidas de segurança sem a militarização das escolas, pois esse é um debate que pode ganhar força. Defender a função social da escola numa perspectiva da classe trabalhadora é apontar o caminho de sua emancipação. Esse é o enfrentamento que também se faz necessário para que se compreenda a epidemia de violência nas escolas.
*Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas