Alexandre Lucas*
Ainda não decidi a roupa de hoje. Estou de férias e a rotina da folga não foi organizada. Acordei cedo como de costume, mas tomei café mais tarde. Fui cuidar das roseiras que estão todas cheias de botão. Rosas amarelas, brancas, vermelhas serão paridas. Adoro a delicadeza das pétalas, a maciez da textura, a simetria. Dizem que elas guardam a simbologia da nossa intimidade. Rosas lembram vaginas. Tenho grandes dúvidas.
Se tivesse uma rosa ao invés de uma vagina, ela seria intocável para não desfazer a sua fragilidade. Andaria lentamente para não decompor o seu arranjo. Elas têm vida curta.
Rosas não suportariam tanta selvageria, tanto vai-e-vem, rodopio, esfregamento, o sugar ou a suavidade de uma massagem assoprada. Minha vagina é resistência.
Sagrado e resistência estão em voga, às vezes como chavão, perdendo seu total aliança com a realidade. A moda vira crença, muito rápido. Estão atirando pedras e louvando os minerais, isso tem mais haver com vaginas do que as rosas.
Na essência, minha vagina não tem nada de sagrada, os deuses e as deusas nunca tocaram um só dedo, é uma pena. Sou mundana. A minha consciência vaginal é cheia de histórias onde meteram deuses e cercas, pecados e punições. Decidi sobre a roupa de hoje: está mais fácil do que a liberdade da rosa ou da resistência.
Escrevedor