Alexandre Lucas*
A matemática não fechava e a perturbação fazia assento. Já duvidava da mentira e a acolhia nos braços como verdade. Entre a rede e o vaso sanitário transitou durante a madrugada, escorreu suor e diarreia, acelerou os pensamentos atropeladamente, sem um minuto de paz.
Espremia o corpo em forma de feto, encolhido, engolia o choro sem lágrimas. Contabilizava o desejo de viver como quem mapeia afetos e monstros.
As palavras saíram rasgando a carne e a esperança. Quase morto, quase em Araguaia, já não tinha forças para guerrilha. Lembrava do último almoço com a sua mãe e seu pai, já velhos e de pouca carne. Queria ser livre, mas vivia clandestinamente para viver.
Foi visto brincando com as flores, logo o acusaram de bicho e destruidor de jardins.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.