Alexandre Lucas
As roseiras estão dançando na varanda. O vento é pouco, mas suficiente para as folhas se movimentarem. Toca uma música espremida de dor, enquanto desce do outro lado da linha, talvez, as lembranças geladas de uma tarde quente. O homem sentado conta suas mentiras e bebe suas verdades.
Derrubo mais uma xícara com café. Sorriu, vendo a negra, quase 60 anos, erguendo um copo de cerveja, cantando, dançando e poupando tecidos. Suas pernas, compostas de veias expostas e de carne mole evidenciavam a sua vida sem filtros.
As crianças brincam na calçada. A noite já quer se apresentar, o descanso é pouco. O domingo poderia ser mais longo, se fosse sempre feliz. O som é aumentado, como se a música fizesse um sinal de penitência para a segunda-feira não chegasse logo.
Os meninos passam na linha sem horizonte, cabelos pintados, olhos vermelhos e risos fáceis, dizem: Pode crê! Sorriu, já está ficando difícil acreditar em tudo que é dito.
O domingo vai passando. A música diz que as rosas não falam, Cartola, entregando as dependências, sorriu.
A lua já se faz presente. A cama estará vazia, prefiro que esteja, porque tem horas que fico sem saber como colocar nos braços a delicadeza e fazer costuras nas nervuras que transitam no centro do teu prazer, nem consigo imaginar a trepidação da tua felicidade. Fique longe, porque estará mais perto, tenho medo de perder os versos da tua acolhida. Outro dia vamos sentar, sei que me escutará de olhos fisgados como se estivesse me sentindo, você costuma fazer isso: abraçar sem julgamentos as minhas inquietações. Sinto-me todo beijado sem saber a textura da tua língua, mas conhecendo parte da linguagem que transa comigo.
A negra se recolheu. O homem dorme entre copos na mesa. Um dos meninos acaba de tombar, o seu sangue ainda escorre entre as linhas. As roseiras estão paradas. As crianças dormem. Hoje é domingo e continuo pensando no amanhã.