Autor: Nordestinados a Ler

As árvores da minha infância
Literatura

As árvores da minha infância

Dina Melo Eu morava num sítio, a vida passava devagar. Devagar eu me punha a olhar as árvores, as flores, a estrada, as formigas, a terra. O curral, as vacas que viravam mães, os carros de boi carregados de cana, os trabalhadores com suas enxadas nos ombros, as mulheres com os potes de água na cabeça, os ninhos de pássaro nos pés de café, os casulos pendurados nas árvores. Via os cafezais, os pés de maracujá, de seriguela, de tangerina, os abacateiros, as laranjeiras, as mangueiras, as jaqueiras, as bananeiras, as goiabeiras, os canaviais. Ah, as árvores da minha infância foram muitas e diversas. Nelas eu brincava de mãe, de filha, de professora. As árvores ouviam meus risos, meus gritos, meus prantos. Também sentiam meus abraços, meus carinhos. Eu gostava de passar a mão nos tron...
Colhendo sementes
Literatura

Colhendo sementes

Logo cedo encontro tuas palavras, marcadas por brincadeiras e pulos de afeto. Guardadas no caderno de anotações entre rabiscos, ensaios de poemas, propostas, encaminhamentos, pautas vencidas e desenhos de rostos. Li lentamente tuas palavras, como quem quer sentir o gosto do fruto molhado em tempos de escassez. Pensei em escrever um livro sobre agricultura para adubar as páginas com tuas palavras e construir casulos para tuas sementes. Um livro para experimentar plantar estrelas. Parece que vai chover; o dia está nublado e abafado. Caminho para o trabalho. Carrego você nos braços da lembrança, espalho tuas palavras pelos bolsos e jardins, taco na boca e nos olhos com a delicadeza dos bordados e das aquarelas. Teu corpo despido pela manhã é um bom livro para iniciar o café, mas nada...
Não se fazem mais dezembros como antigamente
Literatura

Não se fazem mais dezembros como antigamente

Luciana Bessa Em minha memória, dezembro sempre foi um mês marcado por festividades e simbologias. Este dezembro de 2025 nunca esteve tão insuportavelmente quente e violento. Sinto saudades daquele tempo em que nossas maiores preocupações dezembristas  giravam em torno do presente do amigo secreto, da roupa que seria usada na noite de Natal, da comilança e do ganho de peso, da constatação das metas não cumpridas e do planejamento das metas do ano vindouro. “Mudam-se os  tempos”, mudam-se as preocupações, especialmente para as mulheres. A maior agonia é manter-se viva. Domingo, 07, mulheres em todo país ( eu estava lá) foram às ruas para denunciar os altos casos de feminicídio, além de protestar contra todas as formas de agressão aos direitos femininos. Mais do que den...
O smartphone
Literatura

O smartphone

Gracynha Silva Olha Anne, meu novo “Smartphone”! Na presa cotidiana e com vários afazeres Anne ouvia essa bela frase que soava um leve tom de alerta imediato, mas não é por mal...entenda bem, estamos na era da contemporaneidade, no modo urgência e frenético, perfeitamente normal, até então, mas não podemos desconsiderar o humano, o cálido, o fervor da vida, que não tem nada de urgente, pelo contrário... há um pedido de calmaria com mistura de natureza e um leve sentir da brisa ao amanhecer. Sejamos honestos, pois tudo isso só vale a pena se a alma não for pequena. Ah, Fernando Pessoa, suas palavras são tão urgentes para esse mundo de hoje. Esteja mais entre nós... a geração z precisa de suas polidas palavras! ...
A(s) metamorfose(s) do sujeito contemporâneo
Literatura

A(s) metamorfose(s) do sujeito contemporâneo

Dia 29, último sábado do mês de novembro. Participei na condição de ouvinte do grupo de Direito e Arte, projeto de Extensão da Universidade Regional do Cariri (URCA), coordenado pela professora Ana Elisa Linhares e conduzido por Juliana Souza. Livro escolhido pelo grupo? A Metamorfose do escritor alemão Franz Kafka. Sou dessas pessoas que fica impressionada com o poder dos livros através dos tempos. Uma narrativa concebida em 1915 é tão atual em 2025, que me questiono, se o escritor é um gênio, ou se a humanidade retrocede política, social, econômica e afetivamente com o passar dos dos anos? Penso que as duas opções. Em A Metamorfose (1915) conhecemos um caxeiro-viajante, Gregor Samsa, que um dia qualquer, acorda metamorfoseado em um inseto, semelhante a uma barata gigante....
Acreditar e Confiar
Literatura

Acreditar e Confiar

A vida é uma corda bamba; Por onde temos que andar. Para não cair muito menos bambear; Temos que em Deus acreditar e confiar. Assim eu sigo a vida; Sem saber por onde andar. Mas mesmo assim ando tranquilo; Pois tenho Deus para me guiar. Peço a Deus e a Virgem Maria; Para não deixar a minha coragem faltar. Por que sempre espero; O meu caminho Deus iluminar. Que nenhum mal comigo aconteça; Para assim minha trajetória completar. A cada vitória que na vida eu conquistar; A Deus todo poderoso irei louvar. Só ele sabe da minha luta e sofrimento; A angústia, o abandono e o tormento. Mas mesmo em meio às tribulações; Apenas ele me dá todo o amor e acolhimento. Sobre o autor: Maycon Ferreira Gomes Pereira: um jovem de apenas...
O que é o amor?
Literatura

O que é o amor?

O amor é um sentimento; Um gesto vivido com respeito. Tem gente que diz que ama; Mas nem sabe falar direito. O que adianta prometer o mundão; Passar a vida pedindo perdão. O amor é um sentimento que se cultiva; Anos e anos mantendo viva; A profunda admiração. O amor é para quem sabe amar. O que adianta falar e falar; Se nos momentos mais difíceis. Não se pode contar. Mas tenho certeza que ei de encontrar; Uma pessoa muito especial. Na qual irei levar para junto comigo vivenciar; Esse lindo e maravilhoso sentimento. Embaixo de um céu estrelado; E sentindo a brisa do mar. Assim olhar para o céu e dizer; Como é bom poder escolher; A quem abraçar e amar. Sobre o autor: Maycon Ferreira Gomes Pereira: um jovem de apenas 18 ...
Homofobia
Literatura

Homofobia

Apenas hoje sei o que é a homofobia;Ela é a arrogância e a prepotência.Daquele que guarda dentro de si;A frustração de não ser quem ele é;Assumindo diante da sociedade e da família. Dói tanto ver muitos e muitos;Se esconder e esconder de todos a sua fantasia.Fantasia de se relacionar com um homossexual;Com medo do que vai pensar a sua sociedade e sua família. Com isso acabam ferindo a si e aos outros;Falando barbaridades e agredindo os gays.Dando ainda mais palco para a arrogância;Aumentando ainda mais os casos de homofobia. Desejo do fundo do meu coração;Que a sociedade cresça e evolua.E com muita sabedoria;Aprenda o real significado do respeito e empatia. Sabendo respeitar a diversidade;Como também sabendo lidar com a diferença.Assim finalmente irá acabar;O desamor, a arrogân...
Caminhos de pedra
Literatura

Caminhos de pedra

Caminhos de pedra, publicado pela primeira vez no ano de 1937, é a obra com teor mais explicitamente político da primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (1977) e a primeira a receber o Prêmio Camões (1994) - Rachel de Queiroz. Terceira obra queirosiana, trata-se de uma metáfora para mostrar o longo percurso preconceituoso e desafiador de uma mulher, Noemi, que não se conforma com sua vida enclausurada no ambiente doméstico para cuidar do marido e do filho. Ela rompe com o papel feminino tradicional imposto às mulheres do século XX. Indicado para um dos vestibulares mais difíceis do país, FUVEST (2026/2027), a obra tem suscitado debates sobre questões feministas, já que Noemi luta por sua autonomia afetiva, política e econômica. Interessante é o fato de que a...
Grávido aos 47
Literatura, Sem categoria

Grávido aos 47

Acordei grávido aos 47 anos. A lua estava cheia e os lençóis, suados. Tomei duas garrafas de água e meus olhos pareciam sambar. Engravidar aos 47 é como chegar aos 18 — não sei bem a relação desta analogia, mas acredito que faça algum sentido. Aos 18, a responsabilidade aumenta e o mundo parece ser outro. Aos 47 anos, ainda se tem muita coisa para fazer. Meus avós se foram perto dos noventa. Morreram um pertinho do outro, tanto os maternos quanto os paternos. Não sei se chego até lá. Não penso em pular da varanda, tento me alimentar bem e, por incrível que pareça, frequento a academia — mas não tiro foto. O destino é imprevisível. Não estava nos planos engravidar aos 47. Mas aos 47 engravidei, e amanhã o mundo pode acabar. Enquanto ele não acaba, cuido da gravidez. Talvez sejam gêmeo...