Autor: Nordestinados a Ler

A literatura não faz revolução?
Literatura

A literatura não faz revolução?

Shirley Pinheiro O modo de produção, diz o marxismo, condiciona a vida social e, através dela, a vida intelectual. O fator econômico constitui, em última instância, o fator determinante. Mas ele não é o único fator. Produto da sociedade, a literatura está submetida a influências intermediárias e complexas ao fim das quais a economia não aparece senão depois de uma série de múltiplas transmissões. A literatura, como a arte, é portanto uma superestrutura ideológica que se ergue sobre a base de determinadas condições econômicas, mas realiza um desenvolvimento próprio, e sofre, apesar de sua relativa autonomia, os efeitos das outras superestruturas ideológicas — filosofia, ciências, direito, moral, religião, etc.; por sua vez, ela reage sobre a sociedade da qual é a expressão, contribuindo ...
 Caminhando com Micheliny Verunschk
Literatura

 Caminhando com Micheliny Verunschk

Luciana Bessa Publicado em 2023 pela editora Companhia das Letras, Caminhando com os mortos, da escritora pernambucana Micheliny Verunschk, é uma obra forte, marcada por capítulos curtos, não lineares, linguagem fluída e dinâmica, cujas personagens, invisibilizadas e alienadas pelo sistema capitalista, tornam-se presas fáceis para os pregadores da palavra divina. Verunschk, que iniciou sua carreira literária na poesia, Geografia íntima do deserto (2003), tem até o presente momento doze obras publicadas: seis livros de poemas, um de contos e cinco romances, dos quais os últimos dois foram premiados: O som do rugido da onça, 2022, Prêmio Jabuti e Caminhando com os mortos, Prêmio Oceanos, no ano de 2024, um dos mais importantes em Língua Portuguesa. A narrativa analisada, segundo dep...
Entrelinhas
Literatura

Entrelinhas

Flávia Letícia Guardei meu silêncio como quem guarda um segredo, um desejo trancado atrás de um talvez. Mas bastou um sussurro no vento alheio pra que a verdade voasse de vez. E então veio você, palavras soltas, "Já faz um tempo...", sem nem hesitar. Mas no reflexo das suas entrelinhas, vi o que eu não queria enxergar. Duas. Não uma. Dois corações na sua indecisão. Eu, que guardei tanto tempo esse nome, agora sou parte de uma confusão. Se eu soubesse que era só mais um verso na sua canção de incerteza e dor, teria deixado o silêncio falar e sufocado de vez esse amor. Sobre a autora: Letícia -Poetisa de amores silenciosos e mistérios não ditos, minhas palavras guardam o que não pode ser revelado. Fláv...
Solidão
Literatura

Solidão

Bianca Morais Para começar primeiro Preciso me apresentar Sou Bianca Uma garota que ama brincar Mas algumas coisas me fizeram mudar Sou muito chata isso não posso negar Fiz uma brincadeira que todos estão a falar A pessoa que amo comigo não fala E nem meus amigos olhando na minha cara Meu nome e Bianca E alguém pode me ajudar? Sobre a autora: Estudante e integrante do Clube da Palavra do Colégio Municipal Pedro Felício (Crat
Não sofro mais
Literatura

Não sofro mais

Emilly Karine Escuridão Movimentação Medo Insatisfação Dor e desespero Tudo passa ligeiro Mas marcas são deixadas Uma perna arrancada Como flecha lançada Uma arma é disparada É aí que tudo acaba Até que enfim não sofro mais. Sobre a autora: Estudante e integrante do Clube da Palavra do Colégio Municipal Pedro Felício (Crato)
Crítica de Conclave (2024)
Audiovisual

Crítica de Conclave (2024)

Natalia Silva Em um momento de transição histórica para a Igreja Católica, com o recente falecimento do Papa Francisco e a iminente escolha de seu sucessor, Conclave surge como uma obra extremamente oportuna e relevante. Dirigido por Edward Berger, o filme não apenas retrata os bastidores do conclave papal, mas oferece uma poderosa reflexão sobre fé, poder e a fragilidade humana dentro das instituições. A narrativa, baseada na obra de Robert Harris, mergulha na complexidade das decisões que moldam o destino da Igreja. O que poderia ser apenas um thriller político se transforma em um drama denso e intimista, onde cada gesto carrega o peso de séculos de tradição, e cada escolha revela mais sobre os homens por trás das vestes cardinalícias do que sobre a própria Igreja. O protagonist...
A mulher desiludida, de Simone de Beauvoir
Literatura

A mulher desiludida, de Simone de Beauvoir

Luciana Bessa Simone de Beauvoir (1908-1986), intelectual, ativista e escritora francesa nasceu e viveu em uma época/espaço que não vivi, que não conheci (presencialmente), mas que experimento hoje por meio de suas narrativas, sejam elas teóricas - O segundo sexo (1949) -, sejam elas ficcionais – A mulher desiludida (1967). É verdade que não entendo francês. Mas, se pudesse renomearia esta última para “As mulheres destruídas”, já que se trata de três protagonistas em três narrativas diferentes, mas que dialogam entre si: “A idade da discrição”, “O monólogo” e “A mulher desiludida”. Por que não desiludida? Embora o vocábulo signifique “decepcionada”, “desenganada”, “desapontada” tais mulheres, mais do que sofrer uma decepção, um desapontamento, tiveram suas vidas destruídas (amoros...
A mentira mata
Literatura

A mentira mata

Alexandre Lucas Recorrentemente, sonhava que tinha assassinado um homem e o enterrado. O sonho era tão frequente que chegou a pensar em ser um assassino. Ficava remoendo o passado, tentando localizar a veracidade, mas nunca encontrava. Isso era perturbador, rendia alguns dias no banheiro. Logo, vieram duas inquietações tão presentes na vida contemporânea que têm matado e enlouquecido muita gente. Uma é a frase atribuída ao estrategista nazista Joseph Goebbels: “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”. Isso é bastante atual; basta ver a narrativa da extrema-direita: seu discurso é mentirosamente verdadeiro e tem ganhado espaços de poder e legitimidade. Outro aspecto inseparável da mentira é o tempo gasto para tentar desfazê-la. Enquanto a mentira ganha velocidade, as ...
Direito à Cidade é a luta por outra cidade
direito à cidade

Direito à Cidade é a luta por outra cidade

Alexandre Lucas A matemática que divide espacialmente a cidade é determinada pela forma como o capital é socializado nos espaços. A concentração do capital nas mãos de poucos promove a desigualdade socioespacial. A cidade é o retrato de uma sociedade dividida em classes sociais distintas e antagônicas. Existe uma luta constante marcada por interesses divergentes sobre como e quem acessa a cidade. A cidade assume o papel de mercadoria e o espaço urbano age em função da mercantilização da vida humana. Existe dentro desta cidade desigual: uma cidade negada e uma cidade em disputa. A maioria da população minorizada do poder luta por uma cidade que possa lhe caber a partir das condições dadas. Por outro lado, existe uma contestação que luta pelo direito à cidade, a partir do reconhecimento d...
Mais Ciência e menos achismo nos movimentos sociais
Política

Mais Ciência e menos achismo nos movimentos sociais

Alexandre Lucas Em um mundo marcado por crises socioambientais, desigualdades estruturais e discursos negacionistas, a relação entre ciência e movimentos sociais nunca foi tão urgente. A ciência, longe de ser um instrumento neutro ou distante da realidade, deve servir como ferramenta pedagógica e política para qualificar as lutas sociais, garantindo que as demandas populares estejam ancoradas em análises concretas e não em ilusões idealistas ou no senso comum.  A ciência como bússola da realidade. Movimentos que ignoram a ciência correm o risco de se perder em análises superficiais, desconectadas das condições materiais da sociedade. A função da ciência é justamente radiografar a realidade, desvendando as estruturas de opressão, os mecanismos de exploração econômica e os impactos amb...