Alexandre Lucas*
Passarinho de barro cantado com água, foi presente do meu amor. Guardo junto a outras lembranças, hora e outra coloco água e sopro: a música sai. É sobre delicadeza que queria navegar. O passarinho de barro está na estante: a delicadeza parece que permanece por lá também. Tomo café quente neste calor, acrescento canela e olho para o passarinho de barro, ele nem canta nem pisca, fica paradinho na estante.
O último beijo no meio da rua tinha a delicadeza do bordado de vó, tinha a esperança do volto já. O passarinho de barro continuava na estante e agora tenho teu beijo guardado por aqui.
Abro um livro de olhos fechados, não é possível ler e imaginar não é o suficiente. Imagino o passarinho de barro voando, ele não voa. Tento conversas demoradas com o azul do céu, mas o azul não conversa.
Fico me perguntando para que serve um passarinho de barro, ou um beijo com a delicadeza do bordado de vó. Coço a barba, abro um sorriso, tomo um gole morno de café com canela, enquanto descasco a esperança.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.