Alexandre Lucas*
O supermercado do amor está em alta. Na esquina a mulher oferece flores. No balcão da loja, a vitrine das joias douradas está mais brilhante. Os manequins ficam paralelos, expondo as roupas do momento. A farmácia vende suas sobrevivências para reduzir os impactos do amor, isso porque, o amor: acelera, agita, retarda, alucina, enlouquece, prolifera e destroça caminhos. O amor é comprado, como as flores da sala que nunca murcham, mas é um perigo dizer isso em tempo que ainda se acredita no amor.
Já sei, para você o amor nunca foi comprado e isso não faz sentido nenhum. O amor é dúvida, quase sempre discórdia. Já imagino você imaginando: dois corpos, uma cachoeira, o beijo molhado e o pensamento eternidade. O sonho acabou. O amor é tudo isso também, a gente acredita sempre, principalmente quando ele está distante, tipo ao alcance da imaginação.
Pessimismo é algo que não combina com o amor, mas espera aí: de qual amor estamos falando, do meu ou do seu? Dizem que o amor é algo repetido, deve ser por isso que cansa.
Outro dia me deparei com a foto de Maria, feliz na coluna social, no dia seguinte, ela aparecia suja, roxa e morta nas páginas policiais. O amor disse que foi por amor e lamentava a ausência do amor. Não entendo, mas diz que é amor.
Agorinha mesmo estou no açougue, escolhendo as carnes, já que não é possível escolher o amor, mas carne e amor têm tudo haver. No Dia dos Namorados, não sei se terei amor ou carne, a única certeza que tenho é que o amor será bem vendido.
*Escrevedor