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Voadores
Literatura

Voadores

Alexandre Lucas Pássaro grande que conheço é o Urubu. A águia que nunca vi, aparecia na TV, parece que tudo que não é nosso, aparece como sendo na televisão. Por exemplo, é difícil ver um filme nacional nas emissoras do Brasil. Os Urubus os encontravam todas as manhãs. Eles ficavam no muro amarelo do prédio onde foi o Cabaré do Vitorino, aliás a boate, como era chamada. Ficavam ali sem império, vistoriando as sobras de comidas, as carnes em putrefação. Menino, passava horas admirando os Urubus. A linha do trem nos dividia, o trânsito era restritivo, nem todo mundo ultrapassava a linha, os prazeres da carne estavam tabelados logo a frente. Os Urubus já não os vejo por esses trechos. O muro amarelo já é outro, por ali, pelas manhãs escuto vozes de crianças, espero que elas  ...
A Prefeitura e o Sítio Urbano do Gesso
Política

A Prefeitura e o Sítio Urbano do Gesso

Alexandre Lucas O Sítio Urbano do Gesso é tratado pela Prefeitura Municipal do Crato como um projeto particular de uma organização, embora tenha sido reconhecido pela Lei Municipal nº 3.612/2019. O Sítio demanda da gestão municipal cuidados, orientação e fomento para o desenvolvimento dessa área verde urbana, localizada às margens da linha férrea. A lei, proposta pelo Coletivo Camaradas, prevê que essa experiência seja replicada em outras áreas da cidade.   No entanto, o que se observa é a negligência total dos dois últimos prefeitos.   Vejamos:   - Em 2023, o Coletivo Camaradas apresentou ao Conselho Municipal de Meio Ambiente e Mudança do Clima um projeto para revitalizar parte do Sítio. Aprovado pelo Conselho, o projeto não obteve resposta da Pr...
Eu e Machado de Assis
Literatura

Eu e Machado de Assis

Luciana Bessa Não me lembro com precisão quando comecei a ler Machado de Assis (1839-1908), mas sei que não gostei. A linguagem rebuscada e o contexto histórico, século XIX, que aludiam suas narrativas, me eram completamente estranhos. Na flor da mocidade, algo me intrigava: todos os teóricos brasileiros que eu encontrava pelo caminho destacavam o brilhantismo de Machado de Assis. Quando descobri que Harold Bloom (1930), crítico de literatura americana, descreveu Machado como “o maior gênio da literatura brasileira do século XIX” e “o maior escritor negro da história da literatura universal, eu disse a mim mesma: “garota, leia Machado de Assis”. Foi o que fiz. Ouvi falar de uma possível traição de Capitu ao marido Bentinho. Resolvi começar a ler Dom Casmurro (1899). Com seus “olho...
II Encontro da Encosta do Mutirão – Alto da Penha  e Pantanal
Cariri, comunidade, direito à cidade, Esporte

II Encontro da Encosta do Mutirão – Alto da Penha e Pantanal

O II Encontro da Encosta do Mutirão - Alto da Penha e Pantanal, será realizado neste dia 05 de julho, às 17h, na comunidade do Pantanal. Este encontro é uma importante etapa de mobilização e diálogo sobre a obra de revitalização da Encosta, um sonho de mais de 40 anos da população cratense. O evento contará com uma Roda de Conversa sobre o documentário produzido e a importância desta obra para a região, além de um debate centrado no Direito à Cidade, reforçando a necessidade de uma intervenção urbana que contemple os bairros Alto da Penha, Mutirão, Pantanal, Centro e Pimenta. Esta iniciativa é uma articulação de diversos movimentos, incluindo a Associação Mensageiras da Paz, Rádio Cafundó, Coletivo de Mulheres do Mutirão, Instituto Filhos de Maria, Coletivo Camaradas, Coletivo Ensaio Abe...
XI Pipada no Gesso” celebra cultura popular e ocupação do espaço público no Crato/CE
Sem categoria

XI Pipada no Gesso” celebra cultura popular e ocupação do espaço público no Crato/CE

No próximo 21 de junho, a Praça do Gesso, no Crato/CE, será palco de um dos eventos mais animados da região: a XI Pipada no Gesso. Promovida pelo Coletivo Camaradas, a ação reforça a importância da ocupação dos espaços públicos para o lazer, a convivência comunitária e a valorização da cultura popular. A partir das 9h, crianças, jovens e adultos, de ambos sexos estão convidados a soltar pipas, compartilhar materiais e celebrar o direito à cidade e ao brincar. Os participantes podem levar suas pipas prontas ou materiais para confeccioná-las no local, como papel seda, linhas, cola e talas. A ideia é fortalecer a colaboração e a alegria coletiva, em um dia dedicado à diversão e à resistência cultural. A Pipada é um espaços que promove o encontro de gerações, mulheres e homens de várias ...
Resido numa casa de linhas
Literatura

Resido numa casa de linhas

Alexandre Lucas Mainha e painho costuram. Sempre quis costurar; até tentei, mas as linhas se embolavam. Vi tecido e couro sendo atravessados por agulhas, recebendo o abraço das linhas. Comi da costura.   Ainda é tempo de aprender. Mainha costura menos agora — a idade exige cuidados, já não precisa das madrugadas para sobreviver, está aposentada. Painho, inquieto inventor, hoje costura mais ideias que couro.   Parece que a gente está sendo descosturado e costurado ao mesmo tempo. A vida é uma máquina de costura: às vezes a bobina engasga, a linha emperra. A agulha nem sempre obedece à nossa mão.   Vesti e calcei a costura de mainha e painho. Escrevo versos como quem solta pipas — dou linha, puxo, apareço e desapareço no céu, mas sempre impregnado do...
Como escolher pequi e desatar nós
Literatura

Como escolher pequi e desatar nós

Alexandre Lucas Encontrei vó deitada com a sua face de versos de paciência. Cresci querendo aprender com ela a desatar nós, um trabalho difícil, que exige destruir a velocidade e a agitação, cantarolar nos pensamentos e acompanhar a dança das folhas no sopro do vento.   Vó seguia, atravessando as portas, as salas, os quartos. No final da tarde, sempre dizia que estava quente e fazia café. Enrolava as histórias como quem amaciava as memórias, demorando para dizer como José de Alencar, escritor cansativo para ler.   Não lembro de vó ter me batido, nem com palavras. Tenho lembrança dela me ensinando a escolher pequi: quando o biloto sair facilmente do pequi, no toque do dedo, ele estará maduro. "As laranjas mais lisas, sem a pele mondrugosa, são as melhores", ensi...
Vivemos tempos adoecidos
Literatura

Vivemos tempos adoecidos

Luciana Bessa Tenho escutado há anos, na voz da Maria Gadú, que o “tempo é o compositor dos destinos”, é o “tambor de todos os rirmos”, talvez, por isso tenha se tornado “um dos deuses mais lindos”. Sei que a urgência em entrar num acordo com ele tem sido minha prioridade. A sensação de cansaço se apoderou de mim. Minha cabeça fica girando quando me deito e os pensamentos se concentram em todas as demandas que preciso realizar no dia seguinte. São curtos os prazos. Meu corpo dói desde o momento em que acordo. Sem falar nas constantes dores de cabeça que me esperam ao abrir os olhos. Sinto que depois de trabalhar oito horas por dia me falta fôlego e disposição para realizar meus desejos. Já cheguei a me questionar se não tenho muitos desejos. A sociedade contemporânea está impre...
Vou me embora de Pasárgada
Cultura, Literatura

Vou me embora de Pasárgada

Vou me embora de PasárgadaLá fui amiga do reiTive muitas felicidadesOutras tantas eu crieiSem esquecer as lágrimasQue aqui também chorei Hoje faz um ano inteiroQue o céu comemorouA chegada de uma luzQue caminhos alumiouTornando mais belo esse mundoCom as pegadas que deixou. A escola planejadaDe um sonho concretizarNaquele sovaco de serraPadre Ágio foi se instalarE a música, mãe das artesFoi a todos ensinar. Cento e um anos vividosCom saúde e disposiçãoFoi pai de uma comunidadeProfessor, orientador e irmãoPedalou pelas veredasDe muito coração. Está no andar de cimaAo lado de Deus SantoPedindo pela humanidadeRico e pobre, preto e brancoPertinho de Padre CíceroEnxugando nosso pranto. Todos perdemos muitoSem a sua sabedoriaELE que fez do bom sensoSua melhor companhiaDeixou a com...
Logo esse bolo?
Música

Logo esse bolo?

Alexandre Lucas Era o aniversário da minha irmã. Eu estava naquele dia de barriga ruim. Lá tinha reza e comida. Fui só para dar os parabéns—nada de comer nem de rezar. Até precisava de umas rezas e de comer também, mas a barriga estava uma bagunça.   Taquei-me na rede, tentando dormir cedo. Lembro que tinha avisado minha tia sobre a minha situação. Ela foi rezar.   No dia seguinte, ao visitar meu pai, ele anunciou:   — Tem um negócio aí para você, um bolo que sua tia deixou.   Passei rápido, estava com pressa.   Só depois fui ver o bolo. Ao abrir a geladeira, deparei-me com uma fatia numa embalagem plástica:  bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Logo duvidei que fosse coisa da minha tia. Por que aquele bolo?, p...