
— Você acha que sou artista? — pergunta o estudante, mostrando seus desenhos cheios de vontade de acertar.
— Continue desenhando.
Foi a única resposta possível para aquele momento. Poderiam ser outras, inúmeras possibilidades para animar ou frustrar aquele estudante. Continue desenhando parecia a mais cabível.
Incentivar que ele continuasse desenhando talvez fosse o caminho que o pudesse tornar artista, mas fazê-lo acreditar em si já era o suficiente.
Ele desenhava rostos do Homem-Aranha, só os rostos; não sabia desenhar o restante, mas já estava feliz com o resultado.
Era final de ano. No próximo, talvez uma nova escola. Novos desenhos. É possível que não quisesse mais desenhar rostos do Homem-Aranha, ou que tivesse aprendido a fazer o corpo todo. Poderia também ter desistido dos desenhos. Tantas coisas podem acontecer — inclusive ele poderia ter morrido de desgosto. As pessoas morrem de infelicidade.
O estudante saiu. Não guardava seu nome, apenas uma vaga lembrança do seu rosto.
Iris entra chorando. Sabia o seu nome e a reconheceria em qualquer lugar. A sua cabeça doía. O máximo que poderia oferecer eram uns goles de água e um pouco da minha atenção. Nada mais poderia fazer.
Na outra sala, conversavam sobre Duda, uma estudante que vive sob a tutela do Estado. Duda não tem cabeça para ficar em sala de aula.
São tantas cabeças… E o desenho do estudante tinha a cabeça possível.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.
