Alexandre Lucas*
Tocava gemidos. A lua testemunhava o vazio da escuridão. Preenchidos de instantes devorava a fome, a sede e o vácuo. O vácuo, o vácuo. Tenho que parar por aqui. Ponto final. A lua não deixa, avisa todas as noites da sua imensidão e do seu brilho.
Tocava gemidos na parede esquecida, no banco e na cama de pouco espaço. Desenhava com a ponta dos dedos o carinho e a solidão. Nos encontramos, quase que por acaso, quase. Estava quase sóbrio, quase bêbado. Sentia sua língua ansiosa e decidida, era isso que queria, mas já não sabia os caminhos, os meios e a disposição.
Amanhã, talvez, as marcas das tuas mordidas e unhas tenham desaparecido, como as nuvens que estão mudando a cada olhada. Talvez os gemidos sejam outros, outros e outros, ou mesmo sejam dor. Ainda assim, vamos entoar a canção da chegada e da despedida.
A porta continua fechada, mas sempre abro para tocar gemidos. Estou andarilho procurando lugares que parecem nunca terem estradas.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.