Alexandre Lucas*
Chico cantava, nós em versos nos debulhamos. Chico tinha multidões e nós nos bastávamos. Era sexta-feira. Pão com canela, licor de amora, um doce, o chão, a partilha. Escutamos Chico pelo celular, o suficiente, mas nem lembramos o que tocava. Estávamos focados em caminhar pelos olhos.
Os caminhos percorriam a casa e os poros. Um gole de licor e um pedaço da tua língua. A flor estava guardada dentro de Neruda e viva nos nossos lugares.
O carvão ativado escorria na tua e na minha pele, tuas mãos deslizavam poesia. Teu corpo quente molhado decifrava a dança.
Chico falava “para viver em estado de poesia/me entranharia nestes sertões de você”, já entranhados, mordia seus lábios. Na rede, descansava os sorrisos. Você espalhada, quase dormindo, quase sonhando. Chico já tinha cantando tudo, nós estávamos apenas começando.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.