Por Alexandre Lucas*
Um galpão escuro, pouca luz, cabeças despontavam como fotografias preto e branco. Na luz, a ferrugem se destacava nos rostos mais claros. Meio da semana, quarta-feira, as cinzas se misturavam ao suor e as roupas de cores perdidas. O menino pesa as caminhadas da semana, despeja o saco na balança e verifica que consegue comprar sete pães. Abre um sorriso de lábios fechados para esconder os dentes quebrados.
O menino segue sua procissão, vasculha e rever a cidade procurando novos pães. Em dias de sorte, consegue menos sol, mas a média não ultrapassa os sete pães.
Outro dia vi o mesmo menino com roupa limpa, cantando sonhos e me ensinando coisas de computador. Comemos alguns pães juntos, inclusive, tivemos dias em que também comemos bolo recheado com chocolate e refrigerante, nem era dia de festa.
O menino faz de conta que não me conhece. Parece que agora somos estranhos e que estamos distantes, seus olhos rastejam o chão procurando computar os restos dos outros, catando o pão que não é servido a cada dia. Percebo que hoje não é dia de dizer amém: ainda é tempo de catar sonhos e revirar o lixo do mundo.
- Escrevedor