Carta para o meu amor
Alexandre Lucas*
Você não está nos meus primeiros planos, afinal a vida é vasta e cheia de cortinas. Outro dia, há algumas dezenas de anos, via você encardido de ferrugem, poeira e suor, transitando entre os vagões e as rochas de gipsita, de vez em quando soltava pipa e chutava o chão querendo acertar a bola. Aprendeu cedo brincar com o pé de ferro e o martelo, no desafio de não martelar a mão. Mexia na cola, no vazador, na faca e no esmeril, juntava pedaços de couro e borracha. Folheava as revistas de moda e se deliciava ao ver os desenhos rápidos e precisos dos estilistas. Sempre gostou da tesoura para repartir cores e criar formas, cresceu vendo fazendas, de vez em quando ganhava algumas, fazenda naquela época era sinônimo de tecido. Conheceu o grude, era a co...