Literatura

Escola: espaço para além da produção de conhecimento
Literatura

Escola: espaço para além da produção de conhecimento

Luciana Bessa* Sou de uma geração que acreditava no poder de transformação por meio da Educação. Frequentar a escola significava prosperar pessoal, profissional, social e emocionalmente. Escola Municipal Luís Costa, Fortaleza - Ce. Lá fiz meu Ensino Fundamental. Neste espaço, construí relações que permanecem do lado esquerdo do peito. Descobri o quão difícil e fascinante é a Língua Portuguesa. Desenvolvi uma aversão pela Matemática. Sempre era a escolhida para responder uma questão. Com medo de errar, ficava horas em pé diante da lousa segurando o giz e as lágrimas. Escola Governador Adauto Bezerra, Fortaleza - Ce. Lá fiz meu Ensino Médio. Um novo mundo abriu suas portas para mim. Não só precisei sair da escola do meu bairro, da minha zona de conforto, como precisei começar a acor...
Armamento para o pensamento crítico
Literatura

Armamento para o pensamento crítico

Alexandre Lucas É indiscutível que a palavra escrita é essencial para o desenvolvimento cognitivo, a associação de ideias, a ampliação da memória e da argumentação. A palavra, enquanto produção histórica e social, reflete demarcadores societários e, hegemonicamente, reproduz ideologicamente as ideias das elites dominantes. A escola tem uma função primordial na apropriação e no uso multifacetado da palavra, mas, ao mesmo tempo, pode ser limitante ao se focar apenas no uso da norma culta, desconsiderando a dimensão da linguagem como vetor de tecer o social. Na escola pública, a palavra deve assumir um lugar contra-hegemônico, ou seja, representar a apropriação da “técnica e das regras” da norma culta associada à prática social dos indivíduos e à contextualização sócio-histórica....
Nordestinados a Ler: Literatura Brasileira em pauta
Literatura

Nordestinados a Ler: Literatura Brasileira em pauta

Émerson Cardoso* Um relevante veículo de difusão da literatura brasileira contemporânea, o blog Nordestinados a ler se propõe à realização de leituras de obras literárias de autoria feminina, sobretudo a produzida no Nordeste. Apesar dessa proposta inicial, o Nordestinados a ler não se restringe apenas à divulgação de obras de autoria feminina, e de livros produzidos no Nordeste, pois apresenta obras literárias de outras regiões do Brasil e, também, de outros países. Idealizado pela Prof.ª Dr.ª Luciana Bessa (que é escritora, pesquisadora e realizou uma das mais relevantes pesquisas, no Brasil, sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade), o Nordestinados a ler dispõe de uma equipe formada por mulheres comprometidas em dar destaque a nomes significativos da literatura nacional. Alé...
Lutador da felicidade
Literatura

Lutador da felicidade

Alexandre Lucas*  A ambiguidade da expressão "luto" demarca os contrários entre o convencimento da morte e a resistência para sobreviver. Lutamos todos os dias porque algo está sempre se transformando; a materialidade ou o sentimento nunca são estáveis. Uma dor presente ou do passado sempre nos deixa em luto, mas, por outro lado, viver é sempre uma estação de luta. Nos primeiros sete anos de vida, lutamos para aprender a andar, falar, coordenar os movimentos das mãos e até nos limpar quando vamos ao banheiro. Já imaginou que passamos quase sete anos para aprender isso? Nada é dado; tudo é luta. Mas a luta é um processo que se dá das mais diversas formas: para alguns, têm cara de luto; para outros, a pancada é menor. Ambos, no entanto, são desafiadores. Há dias só de luta, mas...
Sambocracia: um samba que ensina o Crato
Literatura

Sambocracia: um samba que ensina o Crato

Alexandre Lucas* O samba tem seu nascedouro nos corpos e identidades dos povos escravizados no Brasil, consolidando-se como um gênero musical que reflete o cotidiano, a resistência e a alegria da classe trabalhadora. A música de boteco, do morro, da beira da rua, do salão e da passarela vai além da diversão e insere-se na dimensão da democratização estética e artística, essencial para ampliar a visão social de mundo e reposicionar o olhar político.   No Crato, o Coletivo Sambocracia, criado em 2018, desempenha um papel político ao promover o samba alinhado à defesa da democracia.   Qual a relevância política do Sambocracia para pensar as políticas públicas para a cultura? Podemos destacar alguns pontos relevantes, como: o aquecimento da Economia da Cultura e de...
Literatura brasileira contemporânea: um Baile Assimétrico
Literatura

Literatura brasileira contemporânea: um Baile Assimétrico

Émerson Cardoso No livro Literatura brasileira contemporânea: um território contestado, Regina Dalcastagnè* faz-nos pensar que, apesar do aumento de publicações, o campo literário brasileiro ainda é fechado e, por vezes, excludente, uma vez que sempre houve, por parte dele, tendência ao apagamento das produções literárias destoantes do aceito hegemonicamente. A autora reflete, desse modo, sobre a quase ausência, no cânone literário nacional, de grupos socialmente excluídos que, apesar dos desafios, não deixaram de escrever e de publicar suas obras. Ela considera, ainda, que pensar a literatura brasileira contemporânea é estar consciente de um conjunto de problemas cujas raízes apresentam vários desdobramentos. Dentre eles, estamos em um país lastreado por desigualdades sociais, racis...
A fragilidade dos Laços de Família
Literatura

A fragilidade dos Laços de Família

Luciana Bessa A família, como é sabido, é o primeiro e o principal grupo familiar que nós humanos integramos. É preciso divisar a família que temos e a família que desejamos. Essa instituição, espaço de contradições, conflitos e harmonia, ao longo dos séculos, tem sido defendida pela Igreja, pelo Estado, sobremaneira, por seus membros para manter um status quo social. Para mantê-la intacta já foram cometidas inúmeras atrocidades, na realidade ou na ficção. Na esteira dessa temática, há o livro Laços de Família, publicado em 1960, (Prêmio Jabuti), da escritora Clarice Lispector. Trata-se de uma coletânea de 13 contos (12 narrados em 1ª pessoa e 1, “O Jantar”, narrado em 3ª pessoa). Na concepção de Érico Veríssimo, autor de Olhai os Lírios do Campo (1938), estamos diante do “mais i...
Ainda Estou Aqui
Literatura

Ainda Estou Aqui

Natalia Silva Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme Ainda estou aqui (2024), mergulha na dolorosa realidade da ditadura militar brasileira, sob a perspectiva de uma família devastada. Apesar de ser um filme que retrata um período sombrio, a direção de Walter Salles aborda esse tema delicado sob outro ponto de vista. Ao invés de explorar cenas de violência, covardia e tortura, a narrativa traz outro olhar sobre um dos episódios mais marcantes da história do Brasil sem amenizar as barbaridades daquele período. Focando na visão dos familiares e amigos dos desaparecidos e no impacto da opressão sobre eles, mostra o terror psicológico e a dor da perda. Além de apresentar esse fato para o restante do mundo, a obra de Walter Salles coloca o cinema nacional em destaque outra vez. ...
O capitalismo distancia nossos abraços
Literatura

O capitalismo distancia nossos abraços

Alexandre Lucas* Escrevo poesia com a faca na língua. Óculos sujos e letras embaraçadas. A borboleta pousa na nas bananas e o carnaval sacode as minhas dores.  Larissa fala de poesia e de ternura quando me ler, mas está distante, o capitalismo distancia nossos abraços. Tenho andado só e descoberto que as ruas estão desertas e que os corações estão cheios de marcas e assaltos, alguns tiros. Outro dia recebi uma foto da praia: ela estava cheia de sol, enquanto recebia o calor do café numa manhã de sábado, num boteco regado de conversas sobre solidão e arte. A praia estava distante e o celular me atormentava com imagens mentirosas de felicidade. A médica estava melhor, estava quase podendo dançar e cuidar dos animais. Morava só, aliás com os seus cachorros. Faz tempo que a ge...
Incômodo
Literatura

Incômodo

Ludimilla Barreira* Sentada no canto da cama, olho para o espelho e vejo o reflexo da desesperança. Levanto o olhar, na tentativa de lutar contra o torpor, mas é em vão. Não me reconheço. Enxergo apenas um amontoado de massa murcha que se movimenta lentamente, acompanhando a respiração. Parece que essa sou eu. Estou reduzida a essa casca? Cada vez que fecho os olhos, na tentativa de gravar o que vejo, percebo que me transformo, em uma velocidade cada vez maior, em algo que desconheço. No escuro da minha intimidade, abro as gavetas da minha mente, procurando as memórias que se conectam às imagens que se desfazem a cada piscada. Encontro papéis, mas não consigo ler as palavras, pois se desmancham em pequenas partículas ao tocar as minhas mãos, formando nuvens de poeira. Elas me sufo...