Literatura

Acho que já estou com idade para casar
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Acho que já estou com idade para casar

Shirley Pinheiro* Acho que já estou com idade para casar. Pelo menos é o que têm me dito as pessoas que passam por mim. Algumas eu conheço, outras já ouvi falar, a maioria só sabe que eu sou filha de sicrano, neta de fulana de tal, parenta de não sei quem. Todas com a mesma dúvida: quando é que você vai casar? Sendo bem sincera, é sim uma pergunta que me irrita. Não só pelo caráter invasivo (por que as pessoas se acham no direito de questionar a vida pessoal de alguém que nem conhecem?), mas também pelo caráter opressor (nós mulheres somos constantemente submetidas a essa pergunta, enquanto os homens permanecem isentos). Mas eis que dou meu veredito: não quero casar. E é aí que as coisas ficam divertidas, pois é chegado o momento em que os olhares transmitem a verdade por trás...
Massageando poesia
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Massageando poesia

Alexandre Lucas* O mundo abriu as pernas, achava que nem pernas mais tinha de tão parado. Repentinamente, você se vê andando e cavalgando entre as pernas, o mundo anda. Ontem, estava apenas com teus  pés, teu corpo  seminu, a música de silêncio  tocando alegrias.Teus pés e nada mais. Torneava de creme, cheiro e delicadeza, andava com a ponta dos dedos, as palmas das mãos e seu olhar descrevendo descobertas.  Teu corpo seminu, mas eram teus pés que queriam tocar primeiro, fazer uma valsa, sentir a maciez da noite, tecer o sonho, alimentar o desejo.  Dormir massageando a madrugada.Eram os teus pés que naquele instante, assumia a imensidão do teu corpo-mundo. A dimensão poética do gozo, a humanização da carne. Tem dias que quero apenas os teus pés e nada mais: não que eles me bastem, mas ...
Roseira de lábios
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Roseira de lábios

Alexandre Lucas* A mão de vó sobre minha cabeça fazia benzeduras, o jeito que tinha para demonstrar que gostava do neto. Era uma tortura, respirava fundo para sair daquele momento. Gostava de vó e da sua paciência. Vó, se foi. Gosto de outras mãos, aquelas que não benzem, mas guiam minha cabeça para nadar a língua, mergulhar levemente entre vales e erupções, rodopiar de coração acelerado e sentir a saliva do prazer florindo. Esqueço do tempo. Tua mão-guia faz com que escreva estações. A noite é curta. Liberto-me com tua mão presa, minha cabeça afundada, tuas pernas procurando caminhar sem destino sobre o colchão. O céu parece que está mais próximo. A boca descansa nos teus terremotos. No fogo misturo: Malva, eucalipto, cebola branca e açúcar, mexo, remexo, até virar ...
Por mais livros…
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Por mais livros…

Luciana Bessa* Não se pode falar em Educação, sem falar no Livro Infantil, essa importante ferramenta capaz de despertar paixões e consciências, já que ontem, 18 de abril, foi o dia reservado para comemorá-lo, visto que nessa mesma data, no ano de 1882, nascia o escritor paulista, Monteiro Lobato, pioneiro da Literatura Infantil Brasileira. Monteiro Lobato foi o criador da boneca Emília, que na minha infância, eu desejava ser como ela. Emília é aquela que se sente desafiada pelas pedras no meio do caminho e as enfrenta. Emília foi feita por Tia Anastácia, outra emblemática personagem lobatiana, para ser dada a Narizinho, menina que adorava comer jabuticaba do pé e inventar reinações. Em 1931, nasceria a obra Reinações de Narizinho.  Emília se tornará a melhor amiga de Nari...
Amor, não gosto de você
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Amor, não gosto de você

Francisco Joherbete* O amor é a vidaTambém é a dorPois a vida é sofridaNem posso amar com tanta dorNão sei o que é amor,e nem quero saberPois um dia me mostraram o que é sofrerMe disseram palavras bonitas ações encantadoras e formosasMas não passava de dores caprichosasÉ bom saber a realidade de viverAmor é algo que não posso sofrerBom, digo a vocês o que é amorÉ sofrer, amar e chorar. Sobre o autor: Francisco Joherbete *Aluno do 8° ano do Colégio Municipal Pedro Felício Cavalcanti. Gosta de ler poesias e de fazer também. "Abrace sua tristeza".
Paredão na Expocrato: um muro neoliberal do Estado
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Paredão na Expocrato: um muro neoliberal do Estado

Alexandre Lucas* A programação da Expocrato é um retrato da indústria restritiva da cultura de massa e da ausência do Estado enquanto fomentador da democratização da diversidade e pluralidade estética e musical do país, em especial do Nordeste e do Cariri. A cada ano, o evento contraria o Plano Estadual de Cultura do Ceará, que institui o marco legal, Lei nº 16.026 de 1º de junho de 2016, que em tese deve nortear a política de Estado para cultura, na transversalidade da gestão governamental. Desvincular o Plano Estadual de Cultura dos eventos promovidos pelo Governo do Estado é atentar contra as diretrizes e o planejamento público em que envolve participação social. É prevaricar. A Expocrato deve ser percebida como instrumento estratégico para o desenvolvimento econômico e socia...
Em busca de estudantes protagonistas!
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Em busca de estudantes protagonistas!

Luciana Bessa* Na década de 80, quando ingressei no espaço escolar, deparei-me com um ambiente marcado pela hierarquização: professor, manda; estudante, obedece. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas a educação permanece piramidal. Ainda não conhecia Paulo freire, Patrono da Educação Brasileira, mas já me sentia um receptáculo de informações jogadas pelos professores. O pior de tudo é que me sentia culpada por não conseguir absorver o que supostamente me ensinavam. Imaginava se os(as) outros (as) estudantes se sentiam perdidas como eu, ou se conseguiam “guardar” todo aquele conhecimento distribuído em sala de aula. Como sempre fui fantasiosa, deseja cadeiras em círculos para que pudéssemos ver uns aos outros e, o mais importante: cada um de nós dando sua opinião sobre o li...
Desnecessidade necessária
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Desnecessidade necessária

Alexandre Lucas* Olhamos os livros, as plantas. Sentamos. Pedimos suco, abacaxi com hortelã, outro de cajá e uma tapioca com frango. Conversamos sobre comida e detalhes esquecidos. Uma moça, branca, gorda, simpática e com menos de 20 anos, chega com um papel na mão como se quisesse anunciar uma venda. Surpresa, ela entrega   um desenho e diz: achei você tão bonita que resolvi te desenhar.  Saiu rapidamente, sem espaço para agradecimentos.  Ficamos apreciando a delicadeza e o quanto a desnecessidade é necessária.  A massa de modelar e algumas tintas estavam guardadas num saco para embrulhar presentes, de algum presente que ganhei, acho que de minha mãe. Era desnecessário, mas  como o desenho, também necessário. Chegamos. Breve parada na escada, alguns beijo...
Quase acordo os chineses
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Quase acordo os chineses

Alexandre Lucas* A cama guarda o cheiro das tuas flores. A taça de vinho continua em cima do baú que nos resistiu, ainda restam três dedos de vinho seco. Despejei um dedo para te escrever. As lembranças vão caindo, como tua roupa justa. Teu corpo nu espalhado sobre o meu. Belchior cantando baixinho, nós, tocando outras canções.  Você estava molhada de palavras. Escrevia com o dedo médio tuas contorções. Tua boca de puras verdades professava vontades. Procurava a nervura teus lábios para compor os teus gemidos.  As luzes acesas. Os beijos mordidos desligando os pudores. O cuidado para abanar os sonhos e amaciar a carne.    No banho, deslizo nas tuas costas:  cheiro e massagem. Entro entre tuas pétalas e toco as estrelas, aperto seus seios e qu...
Amores urgentes
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Amores urgentes

Alexandre Lucas* Segunda-feira. O amor se envenenou de urgências, já não sabe se recorre para o desaparecimento ou para a “Quadrilha”, de Drummond. O amor é urgente, cansa, despedaça, coloca a paciência no precipício, convoca o calafrio para esbarrar entre as borboletas, atiça brilho nos olhos e o derrame do mar.  O amor é invocado mesmo. Invocado por aqui, é tipo mistério e esperteza, tudo junto.  Frida e Neruda foram de confusões e de amores vastos, como a vastidão dos grãos de areia e os conflitos entre céu e terra.    Vejo o amor passando na tela, até dar vontade de guardar na estante da sala, mas o amor é vivo, impulsivo, não tem grades, mesmo quando é enjaulado. Ele escapa pelos pensamentos e sai meio tonto e como avoante, voa!  Estou de saíd...