Literatura

Rita Lee, a mulher que fez um monte de gente feliz
Literatura

Rita Lee, a mulher que fez um monte de gente feliz

Shirley Pinheiro * “A sorte de ter sido quem sou, de estar onde estou, não é nada se comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz” Rita Lee: uma autobiografia (2016) Algumas semanas atrás, sozinha numa madrugada de sábado, assisti, encantada, à homenagem do apresentador Sérgio Groisman à cantora Rita Lee, em seu programa Altas Horas. A cada depoimento dado pelos amigos de Rita, a emoção se exibia, transformando meus olhos numa piscina, sob ameaça de transbordar, e, a cada música cantada, minha pele arrepiava, enquanto, com minha “voz chata e renitente”, como diria um antigo cantor de rock, eu cantava, em frente à TV. Ao fim do programa, ainda emocionada e com certo receio de ser flagrada ali, exposta pelas sensações que aquela cantora me causava, questione...
<strong>Universo enluarado</strong>
Literatura

Universo enluarado

Por Alexandre Lucas* A culpa foi da lua. Essa desgraçada, não pede licença, nem diz que vai entrar, chega dando ordens. Deixa tudo escrito, os dias que me abro e fecho, que sangro e que destempero, mesmo distante e sem luz própria, ela se acha proprietária do meu destino. Minhas amigas estão todas enluaradas, com caminhos definidos. Coitadas.   Tenho que me livrar da lua. É impossível matar a lua, mas isso não passou pela minha cabeça. Ela até faz uma boa companhia à noite, deixa o céu atraente, mas ficar lá em cima querendo patrulhar minha vida é demais.   Mas como pode uma coisa como a lua querer ser gente intrometida. Desconfio que a lua não seja o terror da vida alheia. Acho que tudo isso é uma mentira que inventaram para colocar a culpa em alguma coisa. Se tem ...
<strong>O poder dos livros infantis</strong>
Literatura

O poder dos livros infantis

Luciana Bessa Muitos são os significados dos livros na minha vida. De acolhimento à libertação de crenças limitantes, esse objeto capaz de ter impresso em seu corpo palavras, constrói pontes, disseca corpos, aflora desejos e une humanos. À princípio, os livros me trouxeram alento, porque na infância eu supunha ser sozinha no mundo. Depois, mostraram-me outros universos paralelos, lá, encontrei outros eu(s). Ao descobrir que não estou (tão) só em uma sociedade que inverte valores, fragmenta sujeitos e apodrece relações, senti-me mais confiante para continuar palmilhando essa estrada pedregosa chamada vida. Os livros, assim como as águas que descem da cachoeira, têm molhado uma existência marcada por (muitos) desencontros e (poucos) encontros. Se a “literatura é uma saúde”, os li...
<strong>A Literatura Fantástica de Murilo Rubião</strong>
Literatura

A Literatura Fantástica de Murilo Rubião

Luciana Bessa O gosto pelas narrativas insólitas é tão antigo quanto a própria humanidade. Mesmo quando o homem não dominava essa técnica, tampouco a escrita, ele possuía a arte de contar histórias e, assim, muitas foram criadas, imaginadas e passadas de geração em geração. Há uma névoa que envolve o surgimento do fantástico, que ao longo dos séculos tem sido enriquecido pelo clima de mistério, de misticismo, pelas criaturas mitológicas, pela ficção científica, sobretudo os estados de espírito do homem que tem se modificado ao longo das décadas. É importante frisar que esse tipo de literatura sempre esteve relacionada aos elementos simbólicos que envolvem o homem e o espaço no qual ele está inserido. O que vem a ser a literatura fantástica? Nesse tipo de texto, ocorre um evento sobre...
O escritor e o público
Literatura

O escritor e o público

Luciana Bessa Para a existência de um texto ou de uma obra literária, pressupõe-se necessariamente alguém, um indivíduo, diante de uma folha em branco, com uma pena na mão, ou em tempos de modernidade líquida, na frente do computador, na tentativa de traduzir, em palavras, o que se passa em seu interior. Eis o escritor. Para isso faz-se necessário que ele ou ela - Clarice Lispector dizia que ao escrever não era homem nem mulher - seja imbuído de competência, domínio da técnica, capacidade imaginativa e criadora, inspiração e talento capazes de produzir obras que atravessem séculos e permanecem imortalizadas no âmago do leitor e do público. Às vezes, eu costumo imaginar os escritores como antigos navegantes indo em busca de aventura em altos mares. Eles se arriscariam no reino das ...
Misturamos as coisas
Literatura

Misturamos as coisas

Por Alexandre Lucas Manhã nublada, dia com cara de choro. Hoje, li Drummond. Estava melhor que do que a manhã: piadista, com palavras quentes, duvidoso como sempre. O poeta que também se faz nublado, mesmo diante do sol. Não quero falar da manhã, do poeta e nem da cara de choro do tempo. É porque escrevo assim mesmo, atravessado de fragmentos e de histórias misturadas.  Misturo amendoim com amor, às vezes dar tudo certo, outras dar dor de barriga.  Por falar em histórias, elas sempre nascem de outras histórias. O presente é sempre uma transa com o passado, mas o gozo nunca é uma garantia.  Estava pensando nas ilhas, dizem que elas são isoladas, acredito que seja mentira, sempre as vejo juntas das águas. As sereias, que são mentiras, são tão verdadeiras como as ilhas...
A força da mulher na obra Éramos Seis, de Maria José Dupré
Literatura

A força da mulher na obra Éramos Seis, de Maria José Dupré

Luciana Bessa No início do século XX, poucas mulheres tinham acesso à educação e ao espaço público, pois sendo consideradas seres inferiores estavam em casa servindo ao pai e, depois do casamento, ao marido. Marginalizadas, inferiorizadas, vistas muitas vezes como aberrações, a história das mulheres é marcada pela exclusão, pelo silêncio e pela subalternidade. Ser do sexo feminino era sinônimo de indolência, passividade e obediência às normas sociais. Logo, o cânone literário foi dominado majoritariamente por homens brancos e frutos de uma elite. Sem formação e informação a autoria feminina foi marcada pelo reducionismo. Por isso, é necessário compreender a participação da mulher ao longo da história, seja na condição de criadora, ou como criatura, haja vista que ela era retrat...
A força das mulheres Gattai
Literatura

A força das mulheres Gattai

Luciana Bessa* Publicado em 1979, ano em que recebeu o prêmio Paulista de Revelação Literário, a obra Anarquistas, Graças a Deus, da memorialista Zélia Gattai, com mais de duzentos mil exemplares vendidos, é o registro do nascimento da própria autora, sua infância e adolescência, mas é também um importante relato da imigração italiana na cidade de São Paulo, no início do século XX. Nesta obra, a “vida explode”, como diria o incentivador e marido de Zélia, Jorge Amado. Ao narrar a si, a escritora narra o(s) outro(s) – espanhóis, libaneses, portugueses - imigrantes como ela que viveram nos bairros do Brás, Bexiga e Mooca, - marginalizados por sua cor, por sua nacionalidade, por seus valores e suas ideias em construir um mundo sem hierarquias, baseado na cultura da autogestão, da solida...
O grito se fez pó 
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O grito se fez pó 

Por Alexandre Lucas*  Passei horas escrevendo, fiquei despida, tirei cada palavra que escondia minhas cicatrizes e as feridas abertas, ainda tinha sangue fresco. Desenhei, no meio do papel, um olho; na mesa tinha um copo de vidro cheio de água para acalmar meu corpo trêmulo e minha respiração ofegante. Deram-me dez bolachas, já que não quis almoçar, não comi nenhuma, as formigas é que aproveitaram.  Somente nós, eu, nua diante papel e ele suportando minhas vestes e o peso imensurável das palavras.  Ele sabia os meus segredos, as minhas dores encobertas. O simples papel virou meu confidente. Sabia da profundidade e de cada detalhe dos vulcões e dos terremotos que gritavam dentro de mim. Conseguia fazê-lo sentir o brilho do meu olhar, quando era festa ou inundação. Escre...
Sou uma mentira
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Sou uma mentira

Por Alexandre Lucas* Já confundo todos os olhares e desconheço todas as luas. Construo versos para trincar certezas e já não me deito na cama para enganar o coração. É tempo de amor, porque ele nunca sai de moda. Sou toda mentira que o amor é capaz de fazer. Inventei na palavra que o amor era maior que a imensidão do universo e previsivelmente mais quente que o sol, fui dogmática e professei que o amor era eterno. Lógico que dopada e embriagada pela realidade alienante. Eu espedaçada, fui triturada, mas o amor nos faz mosaico, um todo formado de pedaços. Enquanto me deito, não espero nada, mentira, estou esperançando e de vez em quando sonho, nem tudo é desespero. Ainda vejo estrelas e mares nos olhos. Estou vivinha, ainda, assim quero ficar.  Porque dizem por aí que o amor é...