O ventilador no meio da rua
Alexandre Lucas
Ainda é cedo para sonhar, dizia o senhor com a camisa aberta e os botões perdidos. Enquanto o pombo com seus passos curtos ousava em roubar a comida do gato, podia não sonhar, mas sabia voar. Cheia de planos observava o pombo e o senhor descrente. A ansiedade dava sinais de presença, o único controle que tinha era o da televisão.
Na televisão a vida parece ser mais fácil. Tudo é sempre mais bonito: os homens, as roupas, as casas, até a falsidade, mas a vida real é cheia de mondrongos. Ainda não matei a esperança, apesar dos sinais de cansaço.
Ligo o ventilador no meio da rua, já que as árvores foram cortadas e não existe mais um pé de vento. Talvez queira chamar atenção mais do que esfriar o tempo e discordar do senhor, que disse que era cedo para...