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Cultura Viva conhecer, defender e diferenciar
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Cultura Viva conhecer, defender e diferenciar

Alexandre Lucas É necessário desromantizar o conceito de cultura como sendo algo necessariamente positivo. A cultura precisa ser percebida como processo permanente de produção e reprodução material e imaterial, permeada de conflitos, narrativas e ideologias predominantemente alinhada aos interesses da classe economicamente dominante.  O que nos coloca diante de um contexto de entendimento que cultura também não é algo homogêneo, imparcial e alheia a dimensão da alienação, violência, individualização, competição, mercantilização e fragmentação da vida e da luta pela construção de um novo tipo de sociedade.  No campo da luta por políticas públicas para cultura no Brasil, se faz necessário conhecer a trajetória, o caráter e a perspectiva peculiar e revolucionária do Cultura V...
A rede, por Alexandre Lucas  
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A rede, por Alexandre Lucas  

Por Alexandre Lucas*  Sal para não apodrecer a carne retalhada. Por aqui estão salgando o coração. Os olhos são rios efêmeros, já não conseguem ser mar. Os livros, até tem por aqui, tem uma biblioteca cheia de mundo, próxima à esquina.  As poesias foram espalhadas pelas ruas.  Paramos algumas vezes para brincar com as crianças.  Pintamos os muros, estão mais coloridos.  A bola corre solta por aqui, é uma das poucas opções para suar e dar brilho aos olhos. A bala também corre solta, já ela não chega a ser opção. Há quem fale em escolhas, mas as linhas da vida não são escritas apenas de vontades. Temos tanto o que não queremos e isso não é opção, jamais é escolha.  Na madrugada, o menino dormia como menino, na rede, e seus sonhos eram pequenos, seus pes...
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A casa de saco, por Alexandre Lucas

  Por Alexandre Lucas*   Sentado no tumulto da rua, carregava um saco de paciência. Recolhia olhares e descobria a pressa. A corrida para não chegar a lugar nenhum. Esqueceu seu nome, entre os desconhecidos. Era sempre o senhor, o velho, o homem, o bêbado, o doido. Inúmeras identidades de um anônimo.   Saco sempre cheio. Catava outros sacos menores, mesmo sem ter nada para ensacar. Sua pele encardida se assemelhava com as sacolas enrugadas. Uma greve permanente de cheiro, água em abundância desbotava sua cor, por acaso e no inverno. Idade, quem sabe? O corpo jogado ao sol se desfaz com ligeireza e confundi o tempo. Uma dose de cachaça para carregar a vida. Com afinco o homem arrasta pela cidade o saco, transporta nas costas sua casa, esperando o dia passar. *Pedagogo ...
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Dois banhos

Por Alexandre Lucas* Mel com suco em pó, bem misturado, passado no corpo, lembra sangue. Centro da cidade. Comércio aberto. Jovem preto ergue bacia com líquido vermelho, despeja sobre sua cabeça lentamente. Aos poucos, seu corpo vai sendo coberto de tensão, os olhares diversos testemunham o banho público. Algumas pessoas riem, outras se abalam. Uma mulher entra em desespero querendo desfazer o banho. Várias pessoas perguntam: O que é isso? Depois de quase uma hora parado, o jovem se movimenta. Ali mesmo improvisa um banho com água trazida em garrafas pet, volta a ficar preto. Em suas conversas, relata do seu moinho de abandono. Fala da mãe de olhos claros que vive distante, das encruzilhadas que fazem seus olhos brilharem de ódio, da casa pequena menor que seus sonhos e o quanto é...
Nordestinados a Ler na Rádio Cafundó
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Nordestinados a Ler na Rádio Cafundó

✍️ Na programação da Rádio Cafundó, o Nordestinados a Ler vai homenagear o cantor, compositor, escritor, dramaturgo e um dos principais artistas brasileiros – Chico Buarque. Além disso, é uma personalidade intelectual e atuante na política. Tido como um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira (MPB), compôs inúmeras canções importantes, muitas delas com críticas e denúncias sociais. Em maio de 2019, venceu o Prêmio Camões, um dos “maiores reconhecimentos da Literatura em Língua Portuguesa”. É autor de “Estorvo” (1991), “Budapeste” (2003), “Leite Derramado” (2010) “Essa Gente” (2019), etc • Dia 09, sábado • Horário: 17h📻 Para ouvir, acesse o link: http://l.radios.com.br/r/179244
Wisława Szymborska
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Wisława Szymborska

Shirley Pinheiro “Aconteceu de eu estar e observar. Acima de mim uma borboleta branca tremula no ar as asas que só pertencem a ela e passa sobre minhas mãos uma sombra, não outra, não de outra qualquer, mas dela somente. Diante de tal vista sempre me abandona a certeza de que o importante é mais importante do que o desimportante.” (De Um amor feliz, tradução de Regina Przybycien, edição da Companhia das Letras.) Quando despertei para a leitura de poesia contemporânea, as redes sociais foram (e continuam sendo) minhas primeiras fontes de acesso. Passei a acompanhar páginas de poesia e de poetas novos e pouco conhecidos, sempre usufruindo de suas próprias produções e desfrutando das suas referências. Foi assim que, em uma noite insônia, me deparei com a poes...
Elza Soares, a mulher do fim do mundo
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Elza Soares, a mulher do fim do mundo

Shirley Pinheiro “Até o fim eu vou cantar Eu vou cantar até o fim Eu sou a mulher do fim do mundo Eu vou, eu vou, eu vou cantar Me deixem cantar até o fim” (Elza Soares, 2015) A melhor cantora do milênio, de acordo com a rádio britânica BBC, é brasileira, preta e periférica. Nascida no dia 23 de junho de 1930, Elza Soares carregou na pele, nos olhos e na voz, durante seus 91 anos de existência, a dororidade de uma mulher que não se curvou aos sofrimentos da vida e transformou as lágrimas em samba — “mulher de moral não fica no chão/ nem quer que ninguém lhe venha dar a mão/ Reconhece a queda/ Mas não desanima/ Levanta, sacode a poeira/ E dá a volta por cima”. Um dos maiores nomes da música popular brasileira, Elza Soares nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro, na ...
Chico Buarque, um crítico social nos versos do seu refrão
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Chico Buarque, um crítico social nos versos do seu refrão

Shirley Pinheiro 0 refrão que eu faço É pra você saber Que eu não vou dar braço Pra ninguém torcer Deixa de feitiço Que eu não mudo não Pois eu sou sem compromisso Sem relógio e sem patrão (Chico Buarque, 1965) Quando o assunto é música de protesto, muitos são os cantores brasileiros que merecem o destaque — Belchior, Nara Leão, Raul Seixas, Caetano Veloso, Rita Lee — todos de uma geração marcada pelos horrores das guerras que aconteceram ao redor do mundo e das ditaduras e crises políticas que acometeram o Brasil no século XX. Entre os nomes de grandes artistas perseguidos pela censura está o de Chico Buarque, filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda. Nascido no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944, Chico, que, além de cantor, também é composit...
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A cultura do capital e a cidade negada

Por Alexandre Lucas A produção de uma cidade economicamente desigual gera uma apropriação desigual da produção cultural, o que necessariamente evidencia as contradições irreconciliáveis do modo de produção capitalista e aponta a luta pela democratização da sociedade como parte do processo de transformação social, econômica e das relações de poder. Democratizar o acesso à cidade na sua complexidade e transversalidade é o termômetro para indicar o grau de apropriação da diversidade e pluralidade cultural pelo conjunto da população. Acessar a cidade, transita para além da urbanização e mobilidade urbana, o que requer a ruptura com a exclusão e a desigualdade social e ao mesmo tempo com os mecanismos de gestão participativa e decisória  Evidentemente que a cultura e o direito à c...