Alexandre Lucas*
Da varanda que não é minha, enxergo um mundo pequeno. Casas pequenas, pequenos salários, pequenos prazeres, pequenos olhares. Pequeno, até parece nome de menino que não chega aos 15 anos. Vejo meninos pequenos nas ruas pequenas, tendo pequenas descobertas, pequenos sonhos.
Outro dia, vi um homem lavando miúdos, pequenos pedaços de carne, na rua mesmo, no chão que a gente pisa. Ele nem casa pequena possuía, andarilho. Sua carne pequena e a vontade de comer, era o que tinha.
Hoje pela manhã, o pai chamava o filho pequeno, aos gritos: Vai para casa, filho da puta. Vai para casa, filha da puta!
Quase jogo uma pedra da varanda, mas a coragem foi pequena. As palavras ficaram sufocadas. O pai continuou chamando o filho.
Hoje o coração está pequeno como os bilhetes apressados de despedidas, os grãos de areias e os haicais.
O sol parece pequeno e a lua menor ainda, mas isso é a distância.
Grande é a varanda que não é minha, que mesmo pequena cabe meus olhos.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.