
Logo cedo encontro tuas palavras, marcadas por brincadeiras e pulos de afeto. Guardadas no caderno de anotações entre rabiscos, ensaios de poemas, propostas, encaminhamentos, pautas vencidas e desenhos de rostos.
Li lentamente tuas palavras, como quem quer sentir o gosto do fruto molhado em tempos de escassez. Pensei em escrever um livro sobre agricultura para adubar as páginas com tuas palavras e construir casulos para tuas sementes. Um livro para experimentar plantar estrelas.
Parece que vai chover; o dia está nublado e abafado. Caminho para o trabalho. Carrego você nos braços da lembrança, espalho tuas palavras pelos bolsos e jardins, taco na boca e nos olhos com a delicadeza dos bordados e das aquarelas.
Teu corpo despido pela manhã é um bom livro para iniciar o café, mas nada seria se não carregasse as tuas palavras, escritas com ameixas e a dança das tuas mãos sobre o papel e os meus ombros.
Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.
