
Luciana Bessa
Fiquei sabendo por um desses vídeos do Instagram que trezentos e trinta (330) milhões de adultos passam semanas sem falar com seus familiares, ou mesmo os amigos.
Embora eu seja uma pessoa que cultive a solitude – conexão comigo mesma – todos os dias eu falo com minha mãe e com minha melhor amiga Maria, que na verdade, se chama Vitória (moramos em cidades diferentes). Confesso: eu não fazia ideia que existiam pessoas ao redor do mundo que estavam fora do mundo das relações afetivas.
Também não havia acompanhado o resultado de pesquisas que têm comprovado que estabelecer vínculos sociais é tão importante quanto manter o sono em dia, praticar exercícios físicos e ser adepto de uma boa alimentação.
Fazendo uma rápida pesquisa, descobri que anualmente, em Austin-Texas, acontece um festival que combina inovação, tecnologia e cultura, SXSW. No ano de 2024, a temática escolhida girou em torno da tecnologia, inteligência artificial, além de saúde mental e doenças do cérebro.
Agora em 2025, o evento trouxe a cientista social, Kasley Killam, autora do livro The Art and Sciense of Connection, que discutiu a importância de se falar sobre a “Social Health”, isto é, Saúde Social – capacidade de cultivar laços profundos, manter relacionamentos saudáveis, adaptar-se e interagir em diferentes ambientes.
É importante salientar que saúde social nada tem a ver com ter milhões de seguidores nas redes sociais, ou frequentar shows badalados e postar fotos. Essa dimensão está relacionada à qualidade de vida das relações estabelecidas com seus familiares, com as pessoas que trabalham com você e com as amizades cultivadas. Lembram-se daquela famosa diferença entre amigo e colega? É disso que estou falando. O crucial quando se fala em saúde social é o sentimento de se sentir querido, se sentir amado e se sentir pertencente.
Kasley Killam também discorreu acerca das instituições (públicas ou privadas) que priorizam a saúde social dos seus funcionários/colaboradores: elas irão prosperar. Logo, as conexões humanas e a saúde mental tornam-se sinônimos de “vantagem competitiva”. A estudiosa é certeira ao declarar que as escolas deveriam ensinar sobre conexões e relações humanas para os estudantes. Fiquei imaginando a redução nos números de violência e de bullying no ambiente escolar, se para além de ensinar Matemática, Química e Física, as relações afetivas fossem a mola mestre da Educação.
Infelizmente, a escola ao invés de produzir seu próprio discurso, reproduz o discurso do sistema capitalista. Nosso sistema educacional é bom em falar, estabelecer normas e punir, mas, deixa a desejar quando a questão é escutar e promover a conexão entre seus membros. Isso me fez lembrar de uma crônica de Rubem Alves chamada “Escutatória”. Nela o escritor discorre sobre o quão é “complicado e sutil” escutar “sem logo dar um palpite melhor” (…) “Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer”.
Com o advento da Terceira Revolução Industrial, ingenuamente acreditei na evolução. De fato, ela aconteceu: com as máquinas, não com os humanos. Não é à toa que “a solidão é a maior ameaça da América no momento”, no dirá Scott Galloway.
Confesso que em plena era da informação me é estranho escutar sobre a necessidade de fortalecer conexões humanas, já que são elas que nos mantém ativos e vibrantes. Clarice Lispector está coberta de razão: “O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar”. Somos seres sociais, logo, um dos principais ingredientes para estarmos bem, é a uma existência coletiva, acolhedora e pertencente.
Ainda no SXSW de 2025, uma das palestras mais aguardadas foi a de Rohit Bhargava, intitulada “7 Non-Obvious Secrets of Understanding People to Predict the Futuro” – Os 7 segredos não óbvios para compreender as pessoas e prever o futuro:
1. Ser unicamente humano é a vantagem: as IAS podem até ser mais rápidas do que os humanos, mas são incapazes de desenvolver empatia, criatividade, solidariedade, escuta acolhedora e intuição.
. A identidade molda o futuro: por isso a importância de se investir e valorizar o trabalho desenvolvimento pelo sujeito.
3. Vencedores e campeões não são a mesma coisa: embora todos queiram ser vencedores, os campões são aqueles que contribuem para a existência dos primeiros.
4. Medo pode criar o futuro que tentamos evitar: o medo é um fato, não um sentimento de estagnação.
5. A observação é a chave para antecipar mudanças: a capacidade de observar nos possibilita conhecer e agir.
. O mundo recompensa os que constroem comunidade: atividades que priorizam o pertencimento e a participação coletiva se destacam mais.
7. A inovação começa com pequenos passos.
Não sou especialista em novas tecnologias, mas sou uma leitura de mundo atenta a mim e ao outro. Aprendi que escutar, acolher e não julgar me tornam uma pessoa mais saudável socialmente. E você?
Sobre a autora:

*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler (nordestinadosaler.com.br)