Como as Democracias Morrem

Tarso Araújo

O livro Como as Democracias Morrem é um daqueles trabalhos que já entraram para a história da literatura mundial por ser uma espécie de chamamento para decifrar o espírito dos nossos dias atuais. As democracias estão passando por dificuldades. Setores grandes das sociedades se veem sufocados, acham a democracia uma desgraça e embarcam em qualquer aventura extremista para se livrar do que consideram um problema. As democracias, o estado perverso, a educação, a comunidade LGBT, o outro que não professa a mesma ideia de Deus e religião, um imigrante, ou um sindicalista, um comunista, enfim, quem é ou pode ser considerado – ou eleito – como um inimigo.

Gente que cresce e não realiza seus sonhos, fica uma pessoa ressentida é um poço para o extremismo. Gente mal resolvida, com tendências extremistas, um fanático religioso. Imagine esse mundo de gente reunido para desacelerar a democracia. Soma-se a isso, a normalização do extremismo atual nos veículos de comunicação, o apoio das redes sociais e das plataformas como X (antigo twitter), muito dinheiro em jogo, um líder extremista  e a combinação (pelo menos parte dela) está feita.

O livro Como as Democracias Morrem, escrito pelos cientistas políticos norte-americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, é uma análise profunda sobre o processo de enfraquecimento das democracias modernas. Publicado em 2018, o livro busca entender como regimes democráticos entram em colapso não mais por meio de golpes militares, mas gradualmente, através da ação de líderes eleitos que corroem as instituições por dentro, utilizando as próprias regras do sistema para se perpetuar no poder.

Os autores explicam que, ao contrário do que acontecia no século XX, quando ditaduras surgiam de forma abrupta, hoje a morte da democracia ocorre de maneira lenta, legal e quase imperceptível. Líderes autoritários contemporâneos raramente rasgam constituições ou fecham congressos; em vez disso, enfraquecem instituições, intimidam opositores, deslegitimam a imprensa e distorcem as leis para beneficiar seus interesses. Tudo isso é feito com aparência de normalidade, o que torna o processo mais difícil de identificar e combater.

Levitsky e Ziblatt afirmam que é possível reconhecer sinais de alerta no comportamento de certos políticos. Entre eles estão a rejeição das regras democráticas do jogo, a recusa em aceitar a legitimidade dos adversários, a tolerância ou incentivo à violência e a disposição para restringir liberdades civis, como a liberdade de imprensa e de expressão. Quando um líder apresenta mais de um desses traços e, ainda assim, é tolerado ou apoiado por partidos e instituições, a democracia passa a correr sério risco.

Um ponto central da obra é a ideia de que as democracias dependem não apenas de leis, mas também de normas não escritas. Duas delas são consideradas fundamentais: a tolerância mútua, que significa reconhecer os adversários políticos como legítimos, e a contenção institucional, que é o uso moderado do poder mesmo quando se tem respaldo legal para ir além. Quando essas normas se enfraquecem, o sistema político se torna um campo de guerra, e a convivência democrática perde espaço para a lógica da destruição do inimigo.

Os autores utilizam o caso dos Estados Unidos como exemplo principal. Durante grande parte da história americana, republicanos e democratas mantiveram um equilíbrio baseado no respeito institucional e na moderação. Porém, nas últimas décadas, esse equilíbrio se rompeu com a crescente polarização política. A eleição de Donald Trump em 2016 é apresentada como um marco dessa crise, pois o então presidente exibiu todos os sinais clássicos de comportamento autoritário: questionou resultados eleitorais, atacou a imprensa, pressionou o Judiciário e incentivou desconfiança contra instituições democráticas.

Para reforçar sua análise, o livro compara o caso americano com exemplos internacionais, como a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha, Hugo Chávez na Venezuela, Vladimir Putin na Rússia, Recep Tayyip Erdoğan na Turquia e Alberto Fujimori no Peru. Em todos esses casos, os líderes foram eleitos democraticamente e, aos poucos, minaram a própria democracia, controlando o sistema judiciário, perseguindo opositores e reduzindo a liberdade de imprensa. O padrão é o mesmo: pequenas violações toleradas pela sociedade acabam se tornando grandes rupturas.

Levitsky e Ziblatt também mostram que os partidos políticos têm papel essencial na defesa da democracia. São eles que funcionam como filtros, impedindo que candidatos com tendências autoritárias ascendam ao poder. Quando os partidos abrem mão dessa responsabilidade e priorizam ganhos eleitorais imediatos, acabam colaborando para o enfraquecimento do sistema que os sustenta.

No final, os autores concluem que a morte da democracia é um processo gradual e, muitas vezes, silencioso. Ela não acontece apenas quando um ditador se impõe, mas quando cidadãos comuns deixam de se importar com as instituições, quando o debate público é substituído pelo ódio e quando as pessoas passam a ver o outro lado como inimigo. Manter viva uma democracia exige vigilância, respeito às regras e, acima de tudo, compromisso moral com a convivência civilizada.

Assim, Como as Democracias Morrem é mais do que um diagnóstico político; é um alerta. Levitsky e Ziblatt mostram que nenhuma democracia é invencível — nem mesmo a mais antiga do mundo. O livro ensina que a verdadeira defesa do regime democrático não está apenas nas leis, mas na capacidade das pessoas de defender princípios de tolerância, diálogo e moderação, mesmo em tempos de crise. Em síntese, a democracia morre quando as sociedades deixam de acreditar na importância de protegê-la todos os dias.

Nos EUA dos dias atuais está claro o que Trump está tentando. A maior economia e democracia do mundo está em risco grave. Bolsonaro tentou. Milei está no caminho, mas foi pego com muita corrupção. E ainda vai ter que passar pelo peronismo que tem votos e base social. No caso do Brasil, basta lembrar o que Jair Bolsonaro passou quatro anos fazendo. Elegeu o Supremo Tribunal Federal como inimigo imaginário e tentou o tempo inteiro e durante todo o governo descredibilizar nossa democracia, nosso sistema eleitoral e os juízes. O bolsonarismo faz isso com muita maestria até os dias atuais na maior cara dura.

A extrema-direita no Brasil, por exemplo, tem força. No Congresso Nacional o bolsonarismo se aliou ao centrão e aprovou a PEC da bandidagem, votou e derrubou a MP do IOF para não tributar jogatina e bilionários, quer ampliar o número de deputados e de quebra quer agora aprovar a reforma administrativa para destruir o serviço público no Brasil.

A extrema-direita neofascista no Brasil e no mundo está se movimentando. São poderosos. São ardilosos e tem muita estrutura para fazer o que fazem. Tem financiamento, estratégia e as Fake News trabalham a seu favor. Tem a seu lado bilionários, gente sem escrúpulos como Elon Musk, e plataformas como Twitter, Facebook, aas chamadas fintechs. Portanto, as democracias estão em risco com certeza e as pessoas também.

Sobre o autor:

Radialista, jornalista e escritor de crônicas e contos nas horas vagas. Já foi bancário, funcionário do Banco do Estado do Ceará e dirigente sindical bancário. Como profissional de imprensa já trabalhou em várias emissoras de rádio como Araripe, Educadora, Princesa, Tempo e Vale FM. Já trabalhou no jornal o Povo, como repórter e colunista e no Jornal do Cariri como editor. Atualmente é assessor sindical na área da comunicação e participa de projetos de incentivo à leitura nas comunidades e escolas. É também relações públicas na Câmara de Juazeiro do Norte e apresenta o jornal da 100 na Rádio 100 FM de Juazeiro do Norte. E de quebra, é o editor do jornal e site Leia Sempre Brasil. Está preparando seu primeiro livro. Aguardem!!!!