Crítica: Na Praia à Noite Sozinha (2017)

Natalia Silva

Há filmes que contam histórias e há filmes que nos fazem olhar para dentro. Na Praia à Noite Sozinha do diretor sul-coreano Hong Sang-soo, pertence a essa segunda categoria: não é um filme que se apressa ou que busca agradar. Ele é, antes de tudo, uma pausa. Uma pausa rara e necessária em tempos em que tudo parece exigir respostas imediatas.

Young-hee, interpretada de forma brilhante por Kim Min-hee, é uma atriz que se afasta do cenário público após um relacionamento com um diretor de cinema casado. Ela parte para a Europa tentando se distanciar da dor, da culpa, da exposição. Mas quando retorna à Coreia do Sul, percebe que a solidão e o arrependimento seguem presentes e discretos, mas firmes.

O filme se move por paisagens frias e silenciosas, onde as conversas são quase sussurradas, os encontros casuais ganham profundidade filosófica e os sentimentos mais íntimos emergem: o desejo, a saudade, a culpa. Uma das cenas mais marcantes acontece durante um jantar entre amigos. Após algumas taças de vinho, Young-hee rompe o silêncio e fala abertamente sobre o amor, um amor que não coube nos moldes sociais, mas que a marcou profundamente. A câmera permanece imóvel, nos obrigando a escutar. Não há trilha para suavizar, não há cortes para distrair. Só o momento cru e verdadeiro.

É impossível assistir sem pensar nas pressões emocionais que muitas mulheres enfrentam ao escolher se afastar, recomeçar ou simplesmente colocar seus sentimentos em primeiro lugar. Young-hee não tenta ser forte o tempo todo ela apenas é humana. E talvez seja justamente aí que a obra nos encontra.

Na Praia à Noite Sozinha é profundamente pessoal. Hong Sang-soo se inspira em sua própria relação com a atriz Kim Min-hee para construir uma narrativa que flerta com a auto ficção. E é dessa mistura de realidade e ficção que nasce uma sinceridade incômoda e bela. Ao tocar em temas como amor não convencional, vulnerabilidade e culpa, o filme não nos entrega respostas prontas. Em vez disso, oferece tempo. Espaço. Silêncio. Em um mundo barulhento, apressado e viciado em certezas, esse filme propõe o oposto: Desacelerar, escutar a si mesmo, permitir-se sentir. E, quem sabe, descobrir que a solidão também pode ser um lugar de reconstrução.

Ficha Técnica:

Título original: On the Beach at Night Alone

Direção: Hong Sang-soo

Gênero: Drama

Ano: 2017

Duração: 1h41min

Onde assistir: Filmicca

Sobre a autora:

Coordenadora administrativa em uma instituição de ensino técnico (Cedup), apaixonada por cinema e pseudo-crítica nas horas vagas. Acredito no poder dos filmes para contar histórias inesquecíveis, despertar emoções e expandir nossa percepção do mundo. Entre críticas e análises, me jogo em diferentes gêneros e busco sempre novas perspectivas sobre o cinema.

Criadora da página do Instagram Cine Histeria (@cine_histeria), onde compartilho reflexões sobre o universo cinematográfico.