Alexandre Lucas*
Poesia com carne, um pouco de vinho. A lucidez é uma loucura. Costurava a pele com respiro e algodão. O suor escorria como banho. Teus olhos de pérola me davam sede. Saímos com marcas que as lembranças desejam.
Já perdi a conta das camas, dos muros e da tentativa de ser feliz. Estamos em trânsito, em transe e transbordando de alguma coisa, buscando a distância do frigorífico, onde as carnes estão mortas e não existem trocas.
Quero a poesia dos teus olhos e tua língua descrevendo exclamações e vírgulas. A gramática do corpo é marginal, cheia de doces atritos, alguns rios, erupções, riscos e outros acréscimos da escrita dos corpos. Um gole de reticências, enquanto lembro da maestria da poesia da tua dança e do teu canto indecifrável. Catamos nossa bagunça, sem a mão no bolso e a pressa do desespero. O café deve estar quente após alguns suspiros e banhos.
Viajo. Levo na bagagem alguns corações e uma humanidade inteira, carrego também algumas preocupações e sementes para comer no caminho. Os pássaros comem sementes, será que vou voar? Certamente, não terei asas, mas vou para além do que pode ser visto, afinal, não somos fatias de carne, muito menos aperitivos de gozos.
Sobre o autor:
Alexandre Lucas
*Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho no Ceará, pedagogo, artista/educador, militante do Coletivo Camaradas e a integrante da Comissão Cearense do Cultura Viva.