Por Alexandre Lucas*
Mel com suco em pó, bem misturado, passado no corpo, lembra sangue. Centro da cidade. Comércio aberto. Jovem preto ergue bacia com líquido vermelho, despeja sobre sua cabeça lentamente. Aos poucos, seu corpo vai sendo coberto de tensão, os olhares diversos testemunham o banho público. Algumas pessoas riem, outras se abalam. Uma mulher entra em desespero querendo desfazer o banho. Várias pessoas perguntam: O que é isso?
Depois de quase uma hora parado, o jovem se movimenta. Ali mesmo improvisa um banho com água trazida em garrafas pet, volta a ficar preto.
Em suas conversas, relata do seu moinho de abandono. Fala da mãe de olhos claros que vive distante, das encruzilhadas que fazem seus olhos brilharem de ódio, da casa pequena menor que seus sonhos e o quanto é difícil se encaixar.
Abandona a escola. É preso, dizem que traficava, mas primeiro trancafiaram suas asas e esquartejaram suas oportunidades.
O jovem preto, tomou banho de mel com suco em pó aos 16 anos. Segundo dia do ano, duas horas da manhã, o jovem toma seu último banho aos 26 anos, de sangue de verdade: duas balas na cabeça, uma bala na boca e para não ter dúvidas uma bala nas costas. Santa Luzia que estava ao lado continua parada.
*Escrevedor