Luciana Bessa*
Há três anos, tenho me dedicado à leitura de escritoras da região Nordeste, em virtude da criação do meu projeto Nordestinados a Ler: Blog Literário. Em 2023, ouvi em um programa de rádio sobre uma obra chamada É assim que acaba, da escritora norte-americana Colleen Hoover. Dela, fenômeno de venda, seria criado um livro para colorir, o que gerou uma grande polêmica, pois o enredo versava sobre violência contra a mulher. A autora, após sofrer duras críticas, voltou atrás e declarou: “Eu vejo agora como estava cega”. É sempre bom reconhecermos nossos erros.
Esse ano, minha amiga Aline, leu o livro e comentou que o teor era realmente “tenso” e não permitiu que a filha de quatorze anos também lesse. Acompanhando as postagens dela no Instagram, vejo no mês de março, que comprou literalmente uma caixa de livros, quase todos de Colleen Hoover. Quando vi a publicação, fiz o seguinte comentário: “preciso ler”.
As palavras têm poder. Quinze dias antes do meu aniversário (abril), recebo um presente. Ao abrir, deparo-me com É assim que acaba. Penso que era o Universo me solicitando a leitura prometida.
É assim que acaba me nocauteou. No início, confesso que se trata de uma narrativa fraca e clichê. A protagonista linda (Lily), depois de uma infância sofrida em uma cidade pequena (Maine), vai para Boston e começa a conquistar seus sonhos. No terraço de um prédio, conhece o neurocirurgião (Ryle) bonito, rico e com um futuro promissor. Ela quer viver uma história de amor. Ele deseja “sexo casual”. Até aí tudo bem: qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência.
Parece que o cupido flechou o coração de Ryle e seis meses depois, ele e Lily estavam namorando e, em pouco tempo, se casam. Na condição de leitora, primeiro sinal de alerta: perfeito demais!
Toda essa perfeição é coberta pelo manto da violência contra a mulher. Colleen Hoover é sutil nessa trama de altos e baixos, que em um primeiro instante fiquei na dúvida: o relacionamento entre Lily e Ryle é abusivo? Infelizmente, sim!
Na primeira cena, ambos estão no apartamento dela tomando vinho. O jantar está no forno, mas queima, pois os protagonistas estão se amando. Quando Ryle sente o cheiro, corre para pegar a travessa (sem luvas) e se queima. Esta cai no chão e a cozinha fica completamente suja. Ryle coloca sua mão debaixo da torneira com água corrente. Lily escorrega e o amado ao ajudá-la, cai também. Ela, então, começa a rir daquela situação grotesca. Assim como Lily, fui pega de surpresa: ele a empurra e ela bate o olho na quina da mesa. Ryle pede mil desculpas, um filme passa na cabeça de Lily ao lembrar do que o pai dela fazia com a mãe. Ela o desculpa e tudo fica “bem”.
Na segunda cena, o casal vai a um restaurante com a irmã de Ryle (Allysa). O dono é Atlas, mais um homem bonito e bem sucedido nessa história, primeiro amor de Lily. Sufocada, ela vai ao banheiro e Atlas vai atrás para saber por que ela está machucada. Quando saem de lá, Ryle os vê e os dois homens lindos brigam ali mesmo. Já em casa, o casal discute, Lily sai correndo pelas escadas em busca de seu amor.
Na página seguinte, Lily está na cama sendo acordada por Ryle, que avisa que ela caiu. Mesmo tonta, ela diz: “não, você me empurrou”. Novamente se lembra de tudo o que o pai fazia com a mãe e conclui: “Ryle não é o meu pai”.
Na terceira cena, se ainda resta dúvidas de que Ryle é um agressor, elas caem por terra. Eis que surge um revés: Lily descobre que está grávida. O que fazer diante dessa situação? O leitor acompanha os nove meses da gestação dessa protagonista que vai mudando não só o corpo, mas as ideias e os sentimentos. E quando tudo indica que Ryle será perdoado, nasce o fruto desse amor: Emmy e o pedido de divórcio por parte de Lily. Ambos choram de alegria e de tristeza por saberem que separados serão triplamente felizes. É assim que acaba…
Sobre a autora:
Luciana Bessa
*Idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler