Alexandre Lucas
É meia-noite, estou parada, ainda não descobri o caminho de volta, também não sei se quero voltar e nem para onde. Talvez deva seguir. A rua está deserta, a sensação é que sempre estive aqui. A rua é sempre uma prisão sem grandes.
Parada, observo o barulho do silêncio. Hoje o vestido vermelho está composto, é tecido grosso, não sinto frio. É possível aguentar a noite toda. O gato corre atrás do rato, mas o buraco era bem menor e o gato não entrou. O cachorro late com o vento que arrasta as folhas, enquanto me ocupo com risos.
Vou ficando parada, as coisas parecem que também pararam. O gato, o rato e o cachorro resolveram parar. Talvez fosse preciso uma explosão para disparar gritos, circular corpos e encontrar soluções.
Não tem explosão, continuo esperando, já não sei o que exatamente: talvez esgotar a paciência, já que não acredito que príncipe e cavalo branco apareçam.
Uma senhora, tapada de rugas e um caminhar cheio de peso surge, senta-se ao meu lado, sorrir, abre sua bolsa e retira uma garrafa com café. Tome um pouco, diz a senhora, com ar de quem já esperou muito. Aquele café embalou a madrugada, nem piscava os olhos. A senhora de pouca conversa falava mais pelos olhos e de vez em quando ria sem barulho.
O dia amanhecia, a senhora seguia seu rumo, e eu fiquei ali esperando não sei o quê. Até que acordei, mais cedo do que o de costume, e vi que o tempo não para.