Tay Oliveira
Éramos cinco. Uma mesa, seis cadeiras, cinco lugares ocupados, e a sexta que sobrava era do bichano peludo cheio de preguiça.
Uma mesa, cinco pratos postos, cinco copos cheios, e cinco sorrisos se cruzando em gargalhadas estridentes. Uma história muitas vezes contada: a viagem ao Paraguai, o cabaré de Estelita de mi corazón. Sempre recebido por um: bienvenido brasileño hombre, ¿qué tal un poco de la caña? A mesma história, os mesmos ouvidos atentos e as mesmas risadas sinceras.
Na sala, eram dois sofás, cinco lugares, dois exclusivamente de um dos cinco que estava sempre ali naquele mesmo cantinho. A televisão no mesmo canal, mesmo volume, mesmo que em minutos fosse trocada por uma cochilada aqui e outra ali. Cinco pessoas em um só lugar.
Às vezes eram duas, ou uma em lugares diferentes, mas no final do dia eram sempre os cinco. Era um lar feliz, habitado por cinco pessoas também felizes. No momento que os cinco se separavam, um deles estava junto de um dos quatros, e assim eram todos os dias.
No passeio ou na volta da escola, onde um dos cinco estava acompanhando um outro dos quatro daquele grupo, era construído boas memórias, onde um dos cinco, segurado na pequena mão de um dos quatro, passavam pelo prédio onde havia uma cascata, abaixava-se com aquela serenidade de sempre, enchia a mão de água e dizia: tá bem geladinha, passa na testa pra esfriar o calor. Nesse momento eram apenas dois, mas chegando em casa eram cinco novamente, e todo sorriso se misturava a muitos dedos de prosa de tudo que tinha acontecido no decorrer do dia. Nas festas de família, uma casa de cinco, tornava-se uma casa de muitos. E um dos cinco divertia os convidados com suas dancinhas malucas, seu violão desafinado, e sua voz cansada, repetindo várias vezes o mesmo tom, até acertar o som. Quando tudo acabava, todos iam embora, e restavam apenas os mesmo cinco, cansados, mas felizes e agradecidos por reunir sempre uma grande família.
Éramos cinco.
Hoje somos apenas quatro. A mesa de seis lugares, agora com dois lugares vazios, uma ainda ocupada pelo bichano peludo com a mesma preguiça de sempre. A louça do almoço, quatro. Sorrisos já não haviam. Olhos baixos, se negando a olhar para aquela cadeira vazia. Silêncio misturado em lágrimas, pois só restava uma história, aquela mesma velha história de sempre, na lembrança de cada um. Na sala, lugares sobram, a televisão sempre desligada. Já não havia mais vontade de sentar por lá.
A mãozinha que segurava a mão de um dos cinco, na volta da escola, já segurava outra mão. Até a cascata do prédio, com a água geladinha, parecia não ter mais graça alguma. E o sol forte fazia com que os passos se apressassem para não dar tempo de os olhos marejarem.
As festas de família já não haviam mais, já não havia mais a dancinha, já não havia mais o som desafinado do violão velho, já não havia mais nada para comemorar, pois a grande família havia diminuído.
Éramos cinco, éramos ímpares e não pensávamos em virar número par.
Mas um foi cedo demais.
Quatro mentes cheias de lembranças e uma saudade imensurável do tempo em que éramos
cinco.
Ao meu pai