Ludimilla Barreira*
Exausta. Uma palavra com sete letras que descreve a sensação que tenho quando preciso falar, andar, comer. Enfim, existir. Acredito que nosso cérebro possua algum mecanismo de proteção para esse ponto de esgotamento humano, pois me pego refletindo se devo agir quando as situações se põem à minha frente, mas, na verdade, reconheço que tenho energia apenas para ficar parada e observar. Às vezes, me calo; outras tantas, sou silenciada. Afinal, não tenho forças para relutar com energia.
Percebo que, em todas as nossas relações, sejam profissionais, familiares ou apenas sociais, fomos constituídas para maternar o mundo, mas isso é extremamente cansativo. Pois, além dos cuidados “maternos” que precisamos dispender a todos que estão ao nosso redor – principalmente os homens – somos compulsoriamente colocadas nessa função, sem muita chance de escolha, até percebermos que podemos optar por ficar ou abandonar o barco.
E-S-C-O-L-H-A. O mundo não está preparado para mulheres que têm consciência de suas possibilidades, ainda mais quando elas encontram aliados que reconhecem seus direitos. No geral, o que acontece é que, ao sair do lugar de cuidadora, a mulher ocupa o lugar de descuidada ou egoísta. Pois o que esperam de nós é que façamos silenciosamente o trabalho de gerir os conflitos, para que todos vivam suas vidas usufruindo de todos os privilégios possíveis.
Não me refiro apenas aos homens – claro que estes ocupam o topo da fila de espera por mulheres que possam cuidar de suas vidas -, mas também às privilegiadas que esperam isso daquelas que historicamente são renegadas ao quartinho da casa ou ao banheiro dos fundos.
Estas palavras não são apenas sobre a minha própria exaustão e o quanto estou cansada de ocupar uma função de cuidado, mas para refletir sobre o meu papel como mulher feminista que tenta iluminar a vida de outras pessoas através de esclarecimentos sobre nossos direitos. É um compromisso que preciso firmar comigo: além de falar sobre os direitos e convencer outras mulheres a exercê-los, preciso lembrar que, para lutar, antes preciso viver a causa.
Que cada um cuide mais de si.
Que eu cuide mais de mim.
Sobre a autora:
Ludimilla Barreira
*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.