Por Alexandre Lucas*
Floresça! Era o nome bordado no bastidor, ao lado da imagem de uma mulher segurando um coração exposto e um ramalhete de flores. Uma manta cobria seus cabelos. Olhos claros, olhar sério desses que impõem medo, mesmo sendo pintura.
Tentava escrever um monte de palavras para não passar despercebida. Aquela mulher do quadro não parava de me olhar, como se tivesse vida.
A palavra floresça parecia se juntar aquele quadro, apesar de não fazerem parte da mesma composição. Mesmo estando aparentemente tudo parado, tinha certeza de que estávamos em movimento e transformação: eu, o quadro e a palavra.
Floresça mais parecia uma receita pronta, vendida nos consultórios de felicidade. Hoje é comum vender frases como remédios para curar toda e qualquer enfermidade. Basta crer, que se cura, já desconfio.
Acendo um cigarro, a fumaça polui meus pulmões, reduz o ar, mata lentamente a natureza. Iludo-me com a falsa sensação de liberdade. Estou preso ao quadro, ao bordado e aos contextos. Nunca fui ilha e mesmo as ilhas se ligam ao seu entorno.
Saio da sala. Deixo a mulher, o bastidor com o bordado e um monte de palavras. Talvez seja lida, descoberta e julgada. Vou carregando as coisas, os lugares, as ideias e refazendo os olhares.
Escrevedor*