Ludimilla Barreira*
Ontem, sonhei com alguém do meu passado. Não foi um pesadelo, diferente dos momentos que compartilhamos. Poderia escrever várias linhas, assim como realmente fiz, mas achei melhor poupar vocês e direcionar todos os acontecimentos ao que de fato me pertence no presente e pode ser transformado para o futuro.
Ainda deitada, abri os olhos e fiquei estática, olhando para o teto.
O primeiro pensamento foi a sorte que tive de sair de uma situação que em nada contribuía para o crescimento de ambos. Essa foi uma tentativa de não ser completamente egocêntrica, mas, na verdade, custou-me muito, diminuindo-me em todos os aspectos que deveriam ser fortalecidos ou somados. Ainda assim, sei que, vivendo daquela forma, ele também não experimentava nenhum tipo de felicidade. Às vezes, depois de um tempo, gosto de agradecer ao meu eu do passado por algumas escolhas, especialmente aquelas que foram difíceis e custosas. É sempre bom lembrar dos momentos em que fui corajosa e soube fazer valer o meu “não”.
Em seguida, como sempre existe a possibilidade de não conseguirmos sair de uma situação, refleti sobre quem eu seria se ali tivesse permanecido: refém de uma imagem que eu tentava alcançar, mas nunca chegava perto. Com certeza, não havia meios de atingi-la, pois seria como caber em uma forma que não foi feita para mim.
Nesse ponto, fiz valer minha imaginação. Certamente, a maternidade teria chegado mais rápido, não por eu estar pronta (se é que esse momento existe), mas, certamente, pela necessidade de manter uma imagem familiar estável e pela vã tentativa de acalmar os ânimos com a presença de uma criança. As minhas prioridades profissionais teriam sido opostas às atuais e menos satisfatórias. Lembrar que eu precisava caber na forma? Possivelmente, seria alguém que eu detestaria ser. E, no fundo, teria consciência disso. Talvez essa seja a pior parte.
Então, fui direcionada a outro ponto, que se torna mais difícil de deglutir: a pessoa que me tornei. Tenho consciência a respeito dela? Em que pontos me desacreditei e deixei ser engolida por opiniões, ou percorri estradas que outros acreditavam ser as melhores? O meu resultado do presente é o que pretendo manter para o futuro, ou preciso de mais força para arrastar o meu trem para os trilhos que escolho percorrer?
Não gosto de arrependimentos. Tento valorizar cada segundo enquanto reflito sobre minhas escolhas, para ter discernimento e certeza. Apesar disso, essa última é sempre muito difícil de ser contemplada a longo prazo. Somos humanos e, mesmo com toda a nossa racionalidade, nem sempre pautamos nossas decisões em matrizes lineares ou como progressões perfeitas.
O que sou hoje é o resultado de toda a minha vida, independentemente de como classificam as minhas opções. Por isso, preciso valorizar todas, sem exceções, mesmo aquelas que não são lembradas nos meus agradecimentos.
Eu não sou o resultado de um projeto perfeito, até porque ele já foi transformado inúmeras vezes ao longo do tempo. Mas, na maior parte do tempo, me sinto confortável dentro dos moldes que escolhi ou apenas aceitei.
Sou plenamente realizada? Acredito que estas palavras mostram o quanto a minha cabeça trabalha questionando qualquer tentativa minha de acreditar na plenitude. Por esse motivo, admito que a minha felicidade não venha do suposto êxito, mas da capacidade de questionar e mudar a rota, mesmo que os ventos me direcionem para uma navegação confortável.
E você, sente-se realizada ou confortável com as suas escolhas?
Sobre a autora:
Ludimilla Barreira
*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida. Além disso, é bacharel em Direito, especialista em Direito Público, servidora do executivo estadual e defensora da igualdade.