Ludimilla Barreira*
Sentada no canto da cama, olho para o espelho e vejo o reflexo da desesperança. Levanto o olhar, na tentativa de lutar contra o torpor, mas é em vão. Não me reconheço. Enxergo apenas um amontoado de massa murcha que se movimenta lentamente, acompanhando a respiração. Parece que essa sou eu. Estou reduzida a essa casca?
Cada vez que fecho os olhos, na tentativa de gravar o que vejo, percebo que me transformo, em uma velocidade cada vez maior, em algo que desconheço. No escuro da minha intimidade, abro as gavetas da minha mente, procurando as memórias que se conectam às imagens que se desfazem a cada piscada.
Encontro papéis, mas não consigo ler as palavras, pois se desmancham em pequenas partículas ao tocar as minhas mãos, formando nuvens de poeira. Elas me sufocam enquanto ficam suspensas ao meu redor, compondo um corpo de baile que não consigo acompanhar.
Tento fugir. Tateio as paredes de um longo corredor, enquanto tudo que desengavetei me persegue. Visualizo feixes de luz em uma abertura distante, que parece difícil de alcançar, mas persisto, me segurando à ideia de sua existência.
Adoecida das memórias aspiradas e sem forças para suportar a enorme carga em que todas juntas se tornaram, me esforço para fixar o olhar no espelho, certa de que é mais fácil não saber quem sou nem procurar algo que faça sentido. Afinal, o que é o sentido, além de um significado que eu mesma preciso dar para ele?
Estava atrasada.
Levantei-me para viver.
Sobre a autora:
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*Leitora, sonhadora, eterna estudante e observadora da vida.