Janelas, flores, pregos e marretas

Alexandre Lucas

Pelas manhãs mais fubacentas, pendurava os olhos sob a janela para pescar flores e ler poemas escritos com pregos e marretas.

Ancorado na janela, voava até as estrelas e se estacava no mar. Levantava o tapete do chão e via o mundo se mexendo; nada estava morto.

Levava a janela para cada viagem. Colocava-a na parte mais íntima dos seus lugares: no quarto, no banheiro e na escola de samba dos seus pensamentos.

Flores, pregos e marretas insistiam em aparecer nas suas janelas, como o dia e a noite sempre aparecem.

Certo dia, bateram na sua janela e a chamaram para dançar. Dançou de olhos fechados, como quem sente o gosto do doce lentamente. A dança durou três minutos. Depois, o batedor de janelas sumiu.

Na manhã seguinte, os olhos estavam pendurados, pescando flores e lendo poemas escritos com pregos e marretas.

Sobre o autor:

Alexandre Lucas é escrevedor, articulista e editor do Portal Vermelho.