Luciana Bessa
Eu disse em outros textos, meu apreço pelo mês de janeiro. Para além de estabelecer metas e projetar os meses seguintes, celebramos datas importantes: uma delas é o dia do leitor (07 de janeiro).
Os rios secam, as paixões acabam, o corpo envelhece, o autor morre, mas o livro renasce cada vez mais forte e pungente cada vez que é lido. Leitor? O que seriam dos autores e de suas obras literárias se não fossem os leitores?
A própria existência da Literatura estaria comprometida, porque não há arte sem público. Sem leitor, os autores produziriam suas obras e elas ficariam empoeiradas e esquecidas nas estantes das livrarias e das bibliotecas (alguém questionaria o porquê de sua existência?), ou no fundo de uma gaveta.
Um livro fechado é como uma casa sem dono. Não apresenta nenhuma importância. O escritor escreve para que sua criação seja habitada pela presença do leitor.
Ele deve estar permanentemente com o corpo e mente abertos diante do livro, além de ser dotado de “cortesia em seu coração”. Não bastasse, sofre da síndrome do livro não lido, porque quanto mais lê, mais há o que ser lido.
Um leitor de verdade, aquele que cultiva silêncio, a memória, o deleite literário, sempre precisa de mais livros. Ele acredita ou quer acreditar ser capaz de ler tudo o que gostaria. Contudo, o tempo é curto, as obras são infindas não só para serem lidas, mas para serem compreendidas. Esse número aumenta se somarmos às obras que abrimos, aquelas que, ainda, não abrimos.
O leitor carrega consigo a culpa por não conseguir ler todos os livros de suas estantes, mas não para de comprá-los. Seguir tentando ler cada vez mais e incentivar que os outros também leiam, eis sua missão.
Cada livro é um convite e um desafio ao universo das insubmissas palavras e ao mundo do silêncio, que somente poderá ser desvendado quando ele for aberto e lido. Aqui reside a importância do leitor, um descobridor de mundos. Sem o leitor, o livro será sepultado.
A boa leitura exige interação e participação. Ela só será bem feita, quando houver uma troca total entre texto e leitor, porque ser leitor não é ser um mero contemplador do texto. É, antes de tudo, ser seu colaborador, é usar a pena para fazer anotações e sugestões à sua margem, é “assumir responsabilidade” por ele, é reescrevê-lo se necessário, é excluir a pessoa mais íntima de seu convívio durante o ato de ler, é extrair do silêncio o ambiente adequado a sua leitura, porque “uma leitura genuína requer silêncio”.
O leitor é peça chave do texto. Através dele a obra será discutida, ganhará novas interpretações, a literatura será propagada, novas culturas serão descobertas. Logo, a sobrevivência e a legitimação da obra literária dependem do leitor.