Luciana Bessa
Escritor e jornalista brasileiro, Lima Barreto, nascido no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, sob o contexto da abolição da escravatura, por quem tanto lutou, e da Proclamação da República, é possuidor de uma vasta obra, formada por crônicas, diários e romances de temática eminentemente social e, com um tom satírico, privilegiou aqueles que não tinham voz dentro de uma sociedade elitista e conservadora, omo pobres, boêmios, negros, loucos, composta por homens e mulheres brancos.
Foi considerado por Monteiro Lobato um romancista de “deitar sombra” em vários outros escritores de sua época, inclusive de Coelho Neto, autor de Tormente (1901) e fundador da cadeira nº 02 da Academia Brasileira de Letras (ABL). O criador de Emília no país da gramática (1934), declarava que Lima Barreto era “facílimo na língua, engenhoso, fino…” dando a impressão de escrever ao modo das torneiras que fluem água.
Estreando na Literatura em 1909 com Recordações de Isaías Caminha, da pena de Lima Barreto jorravam palavras contundentes e sábias, marcadas por termos e expressões populares, acerca do contexto ao qual estava inserido, já que, dificilmente, um escritor permanece indiferente à realidade circundante. A escrita nasce dessa necessidade de expurgar o que vai dentro de si, por isso, apesar dos motivos de cada escritor, a criação artística se dá certamente pela necessidade de contribuir com a humanidade.
Em 1911, conhecemos por meio dos folhetins do Jornal do Commercio, a obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, publicada em forma de livro em 1915. Seu personagem principal, Policarpo Quaresma, é um funcionário público nacionalista, defensor da nação brasileira, pois acreditava que ela poderia se transformar em uma potência mundial. Logo, idealizou três projetos, que corresponde às três partes da obra: projeto cultural, projeto agrícola e projeto político. É preso e condenado ao fuzilamento por discordar das práticas abusivas e ditatoriais de seus governantes.
Neste contexto, é bom saber que não existe uma cápsula do tempo capaz de transportar Lima Barreto para os nossos dias e, assim, ele não possa ver que as propostas idealizadas por ele há mais de cento e dez anos ainda não se concretizaram. As injustiças sociais, os interesses pessoais e políticos, “toma lá dá cá” discutidos por Lima Barreto, no século XX, parecem estar mais fortes, em nossa época, onde uma parcela (mínima) do povo pratica atos antidemocráticos, berra pela volta da Ditadura e o Presidente da República veta a Lei Aldir Blanc 2, que prevê o repasse de verbas para a União, Estados e Municípios, alegando ser um ato “inconstitucional e contraria o interesse público”.
Inimigo dos puristas da língua e de um país que privilegia poucos e exclui muitos, sobretudo, os negros, Lima Barreto criou uma nação fictícia chamada “A República dos Estados Unidos da Bruzundanga”. A obra, Os Bruzundangas, publicado postumamente, em 1922, na efervescência da Semana de Arte Moderna, e indicado para o vestibular da Universidade Federal do Ceará (2007), é um diário de viagem de um brasileiro que morou nessa jovem República e nos conta o que viu e ouviu, como, por exemplo, que os políticos eram nomeados pelo voto, mas quem votava não fazia ideia em quem e por que estava votando. A constituição foi elaborada por um seleto grupo de pessoas que se inspirou na constituição dos Brobdining, o país dos gigantes, mas em pouco tempo passou a favorecer quem estava no poder e se estendeu para seus parentes e amigos. Qualquer semelhança com a República Federativa do Brasil não é mera coincidência, afinal a arte imita a vida, embora há quem diga que é a vida que imita a arte.
O homenageado pela Escola de Samba Unidos da Tijuca, com o samba-enredo “Lima Barreto, mulato pobre, mas livre”, em 1982, pela FLIP, Festa Literária de Parati, de 2017, cuja obra foi adaptada para a TV e o Cinema, ano em que a historiadora Lilia Schwarcz lança a biografia Lima Barreto – Triste Visionário, foi tragado pelo alcoolismo, internado pela loucura, censurado por seus pares, mas emergiu da marginalidade e deixou seu nome cravado na eternidade.